Já aqui disse várias vezes que é trágico - que é desertificante - o desaparecimento do francês como língua familiar àquilo a que (sim, no nosso etnocentrismo de ocidentais) chamamos pessoas cultas.
Hoje, provisoriamente, rendo-me. Aqui fica a tradução inglesa de um escrito de René Daumal. Não a acho muito boa. Mas talvez baste a quem se basta com o inglês. Do mal o menos.
I am dead because I lack desire.
I lack desire because I think I possess.
I think I possess because I do not try to give.
In trying to give, you see that you have nothing.
Seeing that you have nothing, you try to give of yourself.
Trying to give of yourself, you see that you are nothing.
Seeing that you are nothing, you desire to become.
In desiring to become, you begin to live.
19 Comments:
“Je n'ai qu'un mot à dire, un mot simple comme la foudre. Un mot qui me gonfle le coeur, un mot qui me monte à la gorge, un mot qui tourne dans ma tête comme un lion en cage. Ce n'est pas une parole de paix. Ce n'est pas une parole facile à entendre. Mais elle doit mener à la paix, mais elle doit rendre toute chose facile à entendre, pourvu qu'on la prenne comme la terre reçoit la graine et la nourrit en la tuant. Quand je serai pourri, dans quelques jours, que de ma pourriture sorte un arbre à paroles. Non pas des paroles de paix, non pas des paroles faciles à entendre, mais des paroles de vérité.”
E para expandir o “do mal o menos” (re)lembro que há um pequeno imenso texto de René Daumal traduzido em português numa simpática edição bilingue o e Alvim, “A guerra santa”, e que simpática e pacientemente se pode adquirir por dois/três euros nas feiras de livros por aí (e que eu já ofereci à minha madrinha, como é dever de afilhado ;)
Abraço, Gold.
Bolas, sou mesmo netroglodita, não faço a mínima do que se passou no segundo parágrafo... A edição é da Assírio e Alvim, daquela colecção do gato não sei das quantas...
Gato Maltês :)
um afilhado muito prendado - dado a prendas! :)
Como vais, Gold?
Um abraço aos amantes do français
quem tem madrinha tem tudo, não é?
um abraço também; vou como vão as cerejas.
eheheheh, Gold :)
se vais como as que papei ao almoço, vais mui bien ;)
"Je suis mort parce que je n’ai pas le désir ;
je n’ai pas le désir parce que je crois posséder ;
je crois posséder parce que je n’essaie pas de donner ;
essayant de donner, je vois que je n’ai rien ;
voyant que je n’ai rien, j’essaie de me donner ;
essayant de me donner, je vois que je ne suis rien ;
voyant que je ne suis rien, j’essaie de devenir ;
essayant de devenir, je vis."
um abraço grande, goldmundo
Gato maltês é o nome da editora ou é para dizer ao Vítor Mácula que só lhe falta tocar piano?
Obrigado, Aquilária :)
Caro anónimo, e tocamos nas coisas pianissimo... não?
Verdade, verdadinha… gostava tanto de saber tocar piano :) E se não fosse por me sentir coíbido na minha intelectualoidice, em meio destes posts e comentários com citações e traduções, citava já aqui o Herzog, mas pronto, isto daqui a bocado já parece o Jornal de Letras, que nem traz cerejas, ou o seu sabor, que afinal é o que importa (para além, claro, de saber ou não tocar piano ;)
tambem gostava de ser o Glen Gold :)
Graças a Deus que não é preciso saber tocar para se poder ouvir...
... e, de facto, tocam pianissimo...
Olha, o livro "A Guerra Santa" acho que já te tinha falado dele e aconselhei-te a comprar...e ainda por cima em francês e português.
E não digas que nunca te dei nada!!!
Schizooo, tás despromovido :|
Pues si es diablo mismo nos dice que la santa es buena... :)
A propósito de piano (e de francês): a frase que está por baixo do nome deste blogue tem o som de Montherlant: acertei? ou, alem de não saber tocar, tambem não sei ouvir?
Tem sim, anónimo, o som e a alma e a mão e o corpo. E obrigado por me lembrar porque tenho que o identificar e esqueço-me sempre!
"Je n'ai que l'idée que je me fais de moi-même pour me soutenir dans les mers du néant". (agora cito-o de memória)
E sempre me vem à ideia a divisa altiva de não me recordo que família, que dele aprendi, e que é a outra face de tudo o que nessas palavras há: "Je garde et je regarde". Que em português talvez se pudesse modificar para "Guardo e aguardo".
Será mesmo outra face? imagino-o a pensar/sentir/dizer: Avec "l'idée que je me fais de moi-même, je garde et je regarde"... mais que altivez, o indomável orgulho que perpassa toda a obra de Montherlant... nem o "Unum, Domine" do cristianíssimo mestre de Santiago está isento desse orgulho:
"Il n'y a nulle affectation en mon père. Il va droit devant lui. Son salut propre, et l'Ordre, voilà sa voie: à droite et à gauche, rien. Son indifférence écrasante pour tout ce qui ne porte pas quelque chose de sublime...'Unum, Domine', 'O Dieu! une seule chose est nécessaire': mon arrière-grand-père savait ce qu'il faisait, lors-qu'il changeait en cette devise-là la devise plus antique de notre famille". Em tempos achei-o sublime, talvez por causa desse orgulho. Agora acho-o sublime, apesar desse orgulho!
(ahhhh... bem melhor o original francês!!!)
Caminhando assim, de verdade em verdade, sem nos perdermos nas ilusões do caminho... chegaremos a viver verdadeiramente...sim...
(e, goldmundo, não te rendas, suplico-te, nem provisoriamente, para não deixarmos que essa belíssima melodia que é a língua francesa se evapore de vez nestas terras de Portugal)
O orgulho tem muitas formas, sim.
E não, não haverá render, anawîm...
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