Vale mais o dia da morte do que o dia do nascimento
, diz o Talmud dos judeus. Ou pelo menos a Eliette Abécassis, no livro que ando lendo, conta que se lêem no Livro essas palavras tremendas.Valem as coisas quando acabam, vemos as coisas quando aos olhos não chegam mais. A música, a insuportável beleza da música: ouvimos, e já não há o que ouvimos; dançamos, e o gesto derrama em nós a saudade permanente do gesto (a forma irrepetível das nuvens).
Tudo me será dado no mundo, menos saber a minha própria morte. Ver-me a mim como coisa a acabar. Por isso nas coisas que amo é o fim delas que eu amo, é o fim delas que me principia. Sim, coisa que não é terra nem mar.
Ontem escrevi, e pensei que estaria bem se a ribeira parasse: fim. Se parasse eu ali com ela. Não sei se sei morrer. Não sei ser o mar, a parada dança das ondas (quantas ondas tem o mar, dizia o meu avô velho, quantas vezes a mesma onda bateu)
Não parou a ribeira, não parei eu. Vejo e ando e sinto e penso e a essa coisa se chama vida, e dela se diz que é como o rio a passar. Mas o rio tem margens, e margens não sei em mim (anda o Porto a fazer-me falta, anda-me o Douro a chamar)
Ontem era talvez o fim, as rosas.
[pintura: o dia da morte, de William Adolphe Bouguereau]
4 Comments:
tens que ir ao Douro... deixaste lá um abraço por cantar... deixaste lá o abraço que te finda... o abraço que te principiará...
daqui, um abraço com sabor a mar...
Confesso (eh eh eh) que muito me apraz a confirmação da tua blog-fluência… Estremeci um pouco com o título “Fim”… Não porque pense que fosse uma boa ou má decisão, mas porque… a Ribeira é a Ribeira, carago ;) É a tal coisa da expectativa... Abraço
Ai de mim. Como a borboleta à volta da lampada, o que escrevo mede a distância. O que faço mede a distância.
Olá.
Ainda bem (pelo menos para nós) que não paraste. Como a "tua" ribeira, a vida corre inexoravelmente! E ainda bem!
Abraço
Leo
Enviar um comentário
<< Home