18.9.06

rasgado na noite o corvo canta


O corvo, que na noite eterna não podia encontrar alimento, desejou a luz, e a terra iluminou-se.

(de um conto esquimó sobre a criação do mundo)

Desejou o corvo, sim. Fome de luz teve ele, na noite o grito das suas asas rasgadas. Abismo chamado amor: mistério de ver, que é anterior à luz.

Entendes porque é isto terrivelmente importante? Nenhum deus benevolente carregou no interruptor em resposta à oração do corvo. Não nasceu a luz da terra, não abraça de fora as coisas acabadas. Mas é no desejo da luz que resplandece e nasce o mundo. É na beleza - ânsia e fome da verdade - que são verdadeiras todas as coisas. Ao princípio houve um deus com fome, e houve as asas, o voo eterno das asas. Rasgado na noite o corvo canta, para que sejas.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

parece uma oração...

18/9/06 12:27  
Blogger sophiarui said...

voltei a reler Simone Weil e lá encontrei o que já encontrara antes... o que depois encontrei aqui e não retive...

o corvo canta sempre, a dor do corvo no cântico imóvel e quieto. e no nada, no desejo do corvo que era nada a luz...

abraço

7/5/07 19:01  

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