Há uma palavra (não me lembro dela em português) que os espíritas usam pra descrever algo como "cascas vazias deixadas pelos mortos", fragmentos-coisas que já foram pessoas (vivas) e não são inteiramente almas (vivas também). Detritos do mar do espírito, sujidades de entre-Terra-e-Além, écorces mortes.
E lembro-me das palavras de um grande ocultista francês: "Portugal, submerso nas écorces mortes da Atlântida".
Infelizmente sei pouco de ocultismo, e muito pouco da Atlântida. Mas de Portugal sei o suficiente. Imerso em detritos, sim. Imerso num nevoeiro mental que paralisa, que não deixa ver, que não deixa agir. Não era Salazar que paralisava, não era o rei que paralisava, não era a inquisição que paralisava. Vivemos na Terra-de-não-ser, Avalon-ao-contrário. Miasmas.
Somos um país enrolado em si mesmo, purulento e manhoso como os mendigos da porta de igreja. Talvez tenhamos invocado demais as gaivotas, cantado demais as gaivotas, esses abutres-do-mar: talvez nos faltem as grandes cidades da Europa, as grandes montanhas da Europa. Talvez apenas nos falte aquele mínimo de vergonha que caracterizou os judeus e depois deles os protestantes, que inventaram a palavra "ética".
Pior de tudo: falamos que até faz impressão.
Em algum momento na História deve ter havido um erro terrível. Ou talvez seja mesmo a Atlântida.
4 Comments:
talvez tenhamos deixado as gaivotas em terra,talvez lhes tenhamos cortado as asas, talvez as tenhamos enterrado vivas... (nem abutres conseguem ser)
sim!fazemos uma certa impressão!
iaaccc!!
e o erro em nós mesmos?
Silvia, o erro em nós mesmos existe sempre - e por isso as coisas que fazemos, mesmo que bem feitas, são incompletas ou imperfeitas em última análise.
Mas em Portugal há um erro pegajoso que já não vem de dentro - embora nos penetre. Como se não houvesse mapa do labirinto, nem consciência de que há caminhos. Vagueamos como almas errantes, e sobrevivemos como almas penadas: à custa dos verdadeiramente vivos.
beijo.
as gaivotas são repugnantes. Não é por acaso que S. Vicente tem como símbolo o corvo e não a gaivota como símbolo e sinal.
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