18.7.07

Sonata Arctica


Vejo nos jornais notícias de idas à Antárctida para "denunciar" o que está a acontecer à Antárctida. Um jovem que ganha um prémio por um trabalho escolar sobre ecologia, um cantor e DJ nova-iorquino cuja música alerta para a morte do planeta, jornalistas convidados a "confirmar" as coisas que os cientistas (e os donos das indústrias) já sabem. Vejo nos jornais a morte a regozijar-se consigo mesma.

São tantos os que lá vão em vão, tantos os que estragam. Tantos em todo o lado que seja lado de fora da coisa nenhuma que lhes anda dentro. Até comigo querem vir ter às vezes. ("não se mexe no que está quieto", ensinou-me a Avó, e não me esqueci ainda).

Desceram tão baixo. Descemos todos. Não conseguimos imaginar um lugar sem ninguém e não ir logo a seguir vê-lo e tocar-lhe. Devastação do ser! Tenha uma casa de férias no paraíso, colha a última flor para florescer na ilusão de ser como ela. O mundo, do ponto de vista dos demónios ávidos.

Nunca hei-de ir à Antárctida. Que lugar magnífico é ela sem mim. Que lugar sou eu longe dela. A proximidade das águias. E podia agora fingir que mudava de assunto, e falar do amor.

"... Solitude, ô coeur d'homme! Celle qui s'endort à mon épaule gauche sait-elle du songe tout l'abîme? Solitude et ténèbres au grand midi de l'homme..." (Saint-John Perse, Amers)