Havia árvores do outro lado dos vidros e do outro lado dos muros, quase sempre não lhes podia chegar, não me queriam deixar e eu não sabia que desobedecer é possível. Olhar. Por elas e pelo meu olhar voando nelas fui aprendendo coisas de vidro e prendendo coisas nos muros de mim. Havia árvores que eram a pereira velha e a ameixoeira grande e o loureiro onde eu sabia que andavam formigas; havia a nogueira do quintal ao lado, onde as pegas gostavam de repousar; havia árvores mirradas e árvores mortas e árvores abafadas por trepadeiras e flores, comidas por insectos e misturadas com ferros e pedras e sombras e sóis. Havia os pássaros.
Devagar conheci as folhas e a sombra das folhas, e pensei que a sombra dos pássaros era parecida com o que andava em mim. Devagar os nomes e as histórias. Devagar a memória, que era a exaltação das raízes, e o sonho, que era a promessa das asas. Havia pássaros, e uma noite aprendi o mistério que a coruja invoca.
Como caíste do céu dos crescidos, criança, filha da Aurora?
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