Teixeira de Pascoaes
As coisas são o que são, são inteiramente o que são, dizem os filósofos alemães: estão aí simplesmente, e nesse estar está tudo o que elas contém. E por isso, dizem eles, um homem não é uma coisa, um poema não é uma coisa.
Estranho, porque há luar na Alemanha, e tantas vezes os seus pintores o pintaram, tantas vezes os poetas o pintaram. Mas talvez os filósofos alemães andem com o nariz mergulhado em livros grossos e pensem que a janela serve para ver as horas no relógio da torre da igreja. Talvez não tenham dado por ela. No luar as coisas estremecem; no luar as coisas gritam de mansinho tudo aquilo que realmente são, a que os nossos olhos quase chegam, as nossas mãos quase chegam. Cada coisa grita que é uma janela aberta para um mundo tão vizinho e tão maior, o mundo da verdade guardada e aguardada pela beleza, pelo terror da beleza. Sim, o luar é a saudade das coisas.
E sim, na minha saudade eu sou inteiramente o que sou, simplesmente aqui como uma coisa posta no mundo. Na saudade sou luar das minhas noites de dentro.
Não há tempo que não seja de rosas e de vampiros. Não há luz que não a da Lua. Não há verdade que não se resguarde na beleza mais frágil.