17.3.08

Diário


Tento guardar a imensidade dos mundos, a inumana imensidade dos mundos. Tento guardar o meu coração tranquilo.

Março.

11.3.08

Fomos...

"We were the last romantics - chose for theme
Traditional sanctity and loveliness;
Whatever's written in what poets name
The book of the people; whatever most can bless
The mind of a man or elevate a rhyme;
But all is changed, that high horse riderless,
Though mounted in that saddle Homer rode
Where the swan drifts upon a darkening flood."

(traduzido por Miguel Serras Pereira, que não gosta da palavra "sanctity":

Fomos os últimos românticos - o nosso tema
a tradição da amenidade e da virtude;
Tudo o que está escrito nesse livro a que o poeta
Chamou livro do povo; tudo o que abençoava
O espírito dos homens ou celebrava um verso;
Mas tudo está mudado; hoje eis sem cavaleiro
A soberba montada que Homero cavalgou
Onde singrava o cisne na escuridão das águas.")

[os versos são de Yeats; a tradução de MSP está na edição portuguesa de "No castelo do Barba Azul - Algumas notas para a definição da cultura" de George Steiner, publicado pela Relógio D'Água. A fotografia tem a identificação do autor.]

Encontrei estes versos que estavam num livro que encontrei numa feira de "livros manuseados". O livro é muito bom. Não o recomendo. Talvez seja melhor pensar que Pégaso pode voltar a ser montado, que o cisne aguarda para além do dia. Sim, we were the last. Abençoar é hoje uma palavra escusada; Homer é apenas um dos Simpsons; singrar é coisa para fazer na vida, e a vida de hoje nada quer com a escuridão.

Não, não o recomendo. Não leiam sequer os versos, não venham sequer aqui à minha ribeira vazia. Tantas coisas novas para vos divertir, novinhas em folha. Deixem quietas as folhas dos antigos livros, as folhas do loureiro pagão. Deixem-nos a nós. Fomos; e nem sabíamos o que éramos, julgávamos que era só a música (e talvez fosse). Julgávamos que era só esta coisa cá dentro. Portas vermelhas fechadas por dentro, fogo inútil na escuridão?

Dark tales, e não há como sair daqui. Eu e alguns outros estamos no mundo estranhamente rarefeitos, altivamente rarefeitos. A nossa história é a do horror à vossa blasfema densidade, à vossa incomensurável insuficiência. Rir é coisa que deve ser deixada aos deuses e ao vento tépido da manhã. Talvez sejamos nós a montada sem cavaleiro, talvez o canto gótico do cisne. Ou, como diz o João Miguel Fernandes Jorge noutro livro que a feira me trouxe,

"Gatos a caminho do Paraíso".

6.3.08

The Otherworld Daily News (1)

Lição de geografia para as crianças distraídas

E temos o ranking deste ano da Forbes (quem não sabe o que isto seja não vive no Otherworld):

- das vinte e cinco maiores empresas do mundo, dezasseis vendem dinheiro (banca, seguros, fundos de investimento); das nove restantes, seis vendem petróleo.

- dos vinte e cinco seres humanos mais ricos do mundo, quatro são norte-americanos, sete são russos, outros quatro são indianos.

- também há quatro portugueses. Mas não é nos vinte e cinco primeiros lugares. É nos mil primeiros.