1.6.04

Desde que me lembro que os mais velhos me tentaram corrigir (sem sucesso). Os poucos amigos que juntei ao crescer afastaram-se desiludidos quando acharam que não cresci como eles. A família que resta olha-me como se eu fosse uma história intranquila. Por isso fui sempre buscar abrigo em livros e histórias, porque o que me tinham para dizer era dito sem saber o que eu ia pensar. Foi preciso envelhecer um pouco para descobrir o privilégio de ter amigos mais novos que me olham de frente e estão perto seja eu o que ande sendo.

Por isso os meus amigos de agora são estranhos: acho que para uns sou o amigo mais velho que têm, e esses são os vivos; para outros sou o leitor mais novo que têm, e esses são os mortos.

Fica o mistério profundo dos meus filhos. Gosto deles como se fossem o mundo inteiro. Estão sempre ali, mesmo quando eu ando tão longe. E não me deixam confundir a noite andada com as trevas que nos vigiam.