17.9.04

O Outono é devagar, tempo outra vez tempo feito depois do instante esmagado em luz. Tão lentas caem as folhas, os últimos pássaros. No silêncio igual das tardes a luz aprende a calar. Uma árvore, uma cidade: é o tempo doce da cerveja, da prova do vinho, canção dos mundos tão grandes.

No Outono despeço-me da Amada, dos olhos fundos da Amada. E percorro a floresta intocada das coisas. Verdade, tempo, a dança frágil dos imortais na terra humedecida. No Outono sou maior. Lembro-me de ver as árvores tão jovens. Lembro-me de nascer, de ser a pedra de que os sonhos brotaram. Além cantam os bosques, no alto a estrela polar e a Ursa. No Outono o mar, a visão clara do vento. Mastros negros. Som.


"I've known rivers:
I've known rivers ancient as the world and older than the
flow of human blood in human veins.

My soul has grown deep like the rivers."

(Langston Hughes)