30.3.06

Lobo, e outras coisas

Por falar em lobo, comecei a ler hoje "Orlando", de Virginia Woolf (tradução de Cecília Meireles, uma edição talvez dos anos 60 0u 70 da Livros do Brasil). Nunca li nada dela.

Ando com a ideia de rearrumar os meus livros: os escritos por homens para um lado, os escritos por mulheres para outro. São diferentes como a água do vinho.

E do lado das mulheres, alguns escritores (homens) femininos: Pessoa, Hermann Hesse, Saint-Exupery, Clifford Simak, Ray Bradbury...

Já agora, e a despropósito, as outras coisas que ando a ler intervaladamente e à mistura:

Falsos Deuses, de Arno Gruen (excelente: um psicanalista explica porque é que precisamos de fortes crenças e infalíveis chefes que nos façam esquecer a pequenez que nos sentimos)

O imaginário da Magia. Feiticeiros, Saludadores e nigromantes no século XVI, de Francisco Bethencourt (um dos poucos estudos académicos portugueses sobre o antigo mundo da bruxaria, a partir dos arquivos da Inquisição)

Marx e Engels, I volume da Correspondência (1835-1848) (os anos da juventude; fascinante o Engels, estranhíssimo o Marx)

The Case has Altered, de Martha Grimes (policial; mais para ir treinando o inglês, uma ou outra página de vez em quando a menos que me entusiasme)

A Arte e a Morte, de Antonin Artaud, tradução portuguesa editada pela Hiena (obrigado, Fata Morgana)

O Mar de Gelo, o último livro de Ana Teresa Pereira (quando estou virado para dentro)

Gostava de viver num mundo em que não houvesse livros.

16 Comments:

Blogger Edo said...

Cecília Meirelles é umas das vozes mais singelas e anacrônicas do modernismo brasileiro.
Tenho uma amiga que diz exatamente isso: Cecília é coisa de "mulherzinha".

Eu a prefiro poetisa de criancas: "Ou isto ou aquilo" seria uma boa pedida pro senhor.

Lembro-me também de "O eco". Uma das minhas primeiras poesias: textos de antologia escolar que nao se esquece.

Quanto aos livros para senhores e rapazitos, tenho me ocupado com "José e seus irmaos" de Thomas Mann. Talvez pudesse rir um pouco com os diálogos entre Raquel e Jacó acerca de tartarugas...

30/3/06 08:49  
Anonymous Anónimo said...

As tardes de Verão a mastigar caramelos "Penha" e a ler as aventuras dos 5, as Gémeas, o Tarzan, ás escondidas lia ainda o Crime do Padre Amaro, coisas como o Papillon, tinha os meus oito, nove anos...ninguém sabia que eu lia mais rápido que qualquer outra pessoa naquela casa, ninguém sabia e ainda ninguém sabe tanta coisa...um beijo grande.
Nunca mais peças um mundo sem livros, eu não faria parte desse mundo...

Clara das mãos esguias

30/3/06 12:35  
Blogger Goldmundo said...

Menina :)

Eu fiquei na duvida se será ESSA Cecilia Meirelles... uma vez que a tradução aparece numa editora portuguesa. Mas é, provavelmente; aliás tem um prefácio muito bonito, que é um prefácio de escritor e não de técnico de traduções.

De resto, devo ter lido poesias dela nos manuais escolares de rapazito, mas não me lembro deles. Hei-de procurar.

"ou isto ou aquilo...". Sim. Seria uma boa pedida. Talvez possa pedir para saber pedir.

O "José" está na minha prateleira, à espera de vez. É o que eu chamo "livro de férias", não por ser mais "leve", mas por ser livro para mergulhar de manhã à noite. Penso eu, que do Thomas Mann sei muito pouco. Mas confio nos amigos do Hesse...

Clara... Às vezes penso se a terrível razão das coisas que me não correram bem tenha sido não ter lido o "Crime". Mas não. Era um livro "proibido" (o critério era estranho, incluia o Ferreira de Castro, os poemas blasfemos do Guerra Junqueiro, toda a biblioteca da minha tia-bisavó Clara [ :) ] republicana e feminista...

E o Papillon era o livro que lia a minha Mana Crescida quando eu aprendi a ler as histórias de ursinhos :)... fiquei com a ideia de só quando fosse eu uma Mana Crescida o saberia saber. E nunca cheguei a ser uma Mana Crescida.

Mais tarde, na biblioteca do Liceu, li Platão por causa da Atlântida. E aí encontrei (já não me lembro se no Fédon ou no Timeu) que se não tivesse havido a escrita a Memória se não teria perdido.

Mas, se isso for motivo para não fazeres parte, então desejo um Mundo que seja uma imensa Biblioteca (e é, não é?)

30/3/06 13:34  
Anonymous Anónimo said...

Li o Orlando - que foi o úncio da Woolf que li até agora e não é livro por aí além. Aquilo parece mais um exercício de estilo da Woolf que outra coisa. Há saltos lógicos e incoerências que quase me fizeram desistir da Woolf até porque me tinha dito que aquilo era o supra sumo. Fui e não era. O Orlando é uma declaração de amor da Woolf a um lorde esquecido que a esqueceu também. Não resultou como declaração de amor e não resultou como livro.

A tua última frase é assustadora!

30/3/06 18:15  
Anonymous Anónimo said...

falta em cima um Ver. Fui Ver e não era.

30/3/06 18:16  
Blogger katrina a gotika said...

Pessoa, Saint-Exupery, Ray Bradbury

Discordo, porque são os que conheço.
E tu até tens razão. Os livros escritos por mulheres e homens distinguem-se claramente. Não há excepções.

Quanto ao mundo sem livros, não basta já os tocadores de concertina no metro para tornar isto insuportável?


Sem ter relação nenhuma com este post, lá em baixo disseste, a respeito da internet: "aqui somos todos iguais". Estive a pensar no assunto durante os dias e, com todo o respeito, quero expressar uma resposta adequada:

Somos todos iguais o caralho!

Pronto, está respondido.

31/3/06 01:13  
Blogger Vítor Mácula said...

Oi!

Um mundo sem livros, ou um mundo onde estes não fizessem sequer sentido?... Essa tua última frase lembra-me a tua estória (eh eh eh sem h, sim) do génio e do aladino...

Em quê que é tão evidente que o "Orlando" é escrito por uma mulher?... É curioso, nestas classificações, aparecem sempre uns homens que se têm que encaixotar nos femininos e umas mulheres que têm de encaixotar-se nos masculinos. E a excepção, é um pouco um índicio de desrealidade... O que não significa que, no geral (aargh) não se possa assim classificar...

Abraços.

PS: Eu cá gosto muito da Virginia...

31/3/06 11:23  
Blogger Edo said...

É possível que seja a mesma Cecília, que era também muito famosa como tradutora. Quando tiver vontade dê uma olhada nas traducoes dela de cartas de Rilke.

31/3/06 17:34  
Blogger Goldmundo said...

heresiarca, tenho de ler. vou ainda nas primeiras páginas... :(

gotika, de facto pus o pessoa com dúvidas. quando escrevi aquilo, procurei abstrair da poesia e pensar no Livro do Desassossego. Hum. Dou o benefício da dúvida e ponho-o fora dos dois grupos.

Quanto ao mundo sem livros... pois. Claro que quero dizer um mundo onde os livros não tivessem surgido, e não o pesadelo do fahreneit (nunca sei escrever isto) 451! (por falar nisso, ESSE é um livro masculino do Bradbury! Já leste o Dandelion Wine?). O que eu acho é que nesse mundo também não haveria concertinas no metro. A nossa necessidade de ler é evasiva, e queremos, em grande parte, fugir do mundo que séculos de intelectuais escrevinhadores nos legaram. "Os sonhos da razão produzem monstros", disse Goya o pintor, e disse bem.

E lembro-me das canções cantadas do Lord of the Rings, que eram cantadas porque na maior parte não seriam escritas...

Quanto à afirmação não-relacionada... ahahahahahahahahah :P
Mas não tenho a certeza. Ou por outra, falamos de coisas diferentes. Eu penso que aqui, sem darmos por ela, podemos ter uma pessoa de 16 anos e uma de 55 (ou com outras diferenças quaisquer) a falar facilmente/depressamente de coisas que, em contacto "ao vivo" precisam de muito tempo para serem passadas. Lembro-me por exemplo de pessoas de quem fiquei amigo e que tinham dificuldade em tratar-me por tu porque tinham sido meus alunos... Eu, por exemplo, fui educado a não tratar por tu ninguém mais velho do que eu. Etc. Se calhar as gerações mais novas têm menos essas coisas, e ainda bem.

A "desigualdade" que depois disto se mantém... é a que cada um merece, pelos seus actos (palavras).

Vítor ... lês policiais? Aí, por exemplo, nota-se imenso. É uma diferença na atenção dada às coisas. Os homens dizem "ele chegou e anavalhou o outro.". E pronto. :P ...

Quanto à "excepção/indicio", nao estou nada de acordo. Voltamos a uma conversa do teu blog sobre o poli-sexual, apre!!!

homem/mulher não coincide com masculino/feminino a não ser em hipóteses teoricas tipo Conan o Bárbaro...

menina, nao sabia de edição portuguesa de cartas do rilke! Tenho de procurar.

31/3/06 20:58  
Blogger Lord of Erewhon said...

Essa conversa acerca do masculino e do feminino na literatura é deliciosa... ao chá... e para levar prá cama acérrimas femininistas!
Lê «Memórias de Adriano» da Yourcenar... e depois diz-me se não foi escrito por... um gajo!

2/4/06 13:56  
Blogger katrina a gotika said...

Há menos barreiras mas não somos iguais.
Não acredito na igualidade em lado nenhum.
A internet é apenas um meio privilegiado para trocar ideias de cérebro para cérebro sem outros entraves pelo caminho.

3/4/06 01:06  
Blogger Vítor Mácula said...

Mestre Gold.

Apre2!! Eu é que me exprimi mal! Não quis de modo algum (enfim...) voltar a pisar ovos recentemente omoletados ;) Era mais já nessa do não-Conan. É que eu diria que o "Orlando" é masculino, e "As ondas" da mesma Virginia, feminino. Daí perguntar-te se achavas o "orlando" feminino"...

Voltaremos um dia à excepção/indício, singularidade/generalidade. É uma das minhas obsessões :P. Penso que ambos os planos têm evidentemente o seu sentido mas... um dia com mais tempo (maldita segunda-feira!;)

Abraço.

3/4/06 13:10  
Blogger Vítor Mácula said...

Caro Bispo.

Pois, lá está... Também acho que "As memórias de Adriano" são escritas por um gajo (não-Conan, mas lá está2...)

Abraço.

3/4/06 13:12  
Blogger Goldmundo said...

gotika: a armadilha do "igual" é uma coisas desesperantes do mundo moderno. Não, não somos iguais. Nunca fomos. E no entanto tu lês na Ilíada, que tem mais de três mil anos: " [fez-se] o banquete, onde todos os homens são iguais". O "iguais" pressupõe sempre um "onde". Nem que seja o "onde/quando" de um simples diálogo".

Já agora: uma das razões pelas quais a I Guerra Mundial teve efeitos devastadores (a nível social e de mentalidades) na Europa foi a de que, pela primeira vez desde há séculos e séculos, príncipes e camponeses estiveram lado a lado, sujos e feridos, nas trincheiras. "diante de uma bala inimiga (eis um belo exemplo de um 'onde') todos os homens são iguais. Na Inglaterra, em França, na Alemanha e na Áustria, as relações senhores/escravos nunca mais foram as mesmas.
Não sei se viste o "Patriot" do Mel Gibson, passado por 1770: os ingleses estavam chocados pelo facto de os guerrilheiros apontarem aos oficiais, em vez de apontar aos soldados.

Erewhon (e Vítor): já li as Memórias (e quero relê-las, foi há tanto tempo). Sim, a Yourcenar. A mesma que termina o "Golpe de Misericórdia" com a espantosa frase "com as mulheres, todo o cuidado é pouco". A Yourcenar (ou a outra Marguerite, a Duras) são masculinas, sim. Muito mais do que a maior parte dos "homens".

Hum.

3/4/06 13:30  
Blogger Lord of Erewhon said...

Ainda bem que é só «de cérebro para cérebro»... assim ainda conservo o meu membro viril em bom estado! JAJAJAJA!!!

11/4/06 18:40  
Blogger Lord of Erewhon said...

Masculinas... ya, mas uma é a reencarnação de um estóico qualquer, a outra é uma fufa política! Grande diferença! Ou não? JAJAJAJA!!!

11/4/06 18:41  

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