Conhecer uma coisa é sempre devolvê-la ao Mistério de onde ela vem. Por isso conhecer te eleva. E por isso se te quiseres conhecer começa por alargar o vazio à tua volta. E não te assustes com a noite que se faça em ti; é nela que te distinguirás melhor das sombras do mundo.
Só nos filmes americanos há fantasmas nas casas modernas. Isso pode ser um argumento a favor do bom-gosto dos outros mundos. Mas pode haver uma outra razão, mais assustadora. Não há-de ser a morte: apesar dos hospitais as pessoas não escolhem o seu último lugar e o seu último momento. O que distingue as casas modernas é que nelas já não nascem crianças. E o momento do nascimento é tão terrível como o da morte. Nós é que raras vezes damos por ela.
Nunca soube contar uma acção quando escrevo: ela entrou, acendeu a luz e sentou-se na cadeira... vi uma vez num livro de história de arte que há centenas de quadros e gravuras inglesas com cavalos a correr, e que neles a sensação de velocidade é-nos dada por uma certa posição do corpo, da cabeça e das pernas do cavalo; a fotografia veio mostrar-nos, depois, que essa posição nunca acontece. A acção dos outros é uma coisa parada dentro de nós.
30.3.04
Notas para mais tarde
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