21.4.04

Hoje dei um grande passeio pelo mundo dos blogs. Não costumo fazer isso, geralmente vejo sempre os mesmos e não preciso de ver mais. Não sei porquê mas as novidades nunca me chamaram. Mas hoje devo ter entrado em dúzias deles.

Será uma primeira impressão errada? Pareceu-me que os podia ordenar mais facilmente do que aos meus livros (hesito sempre entre a ordem alfabética e a arrumação por assuntos...), como se fossem um arco-íris.

Numa ponta estão os blogs negros, que têm a forma de um grito. Às vezes o fundo é negro também, mas nem sempre. As palavras estão ali porque foi preciso pô-las lá. Se forem bons não me apetece sair de lá (tenho de fazer a ligação para dois ou três...).

Depois os roxos, feitos de tristezas pequenas que não souberam juntar-se numa tristeza só. São os das pessoas que acham que a vida está a correr mal, como se pudesse correr bem, como se corresse. São blogs de indecisão, o que sairá dali?

Vêm depois os azuis. São blogs muito importantes. Falam como quem sabe. Todos os políticos estão aqui. Estão cheios de soluções, de ideias, de novidades. Não sabemos se quem os fez estava triste ou contente. Deve estar contente, porque se estivesse triste não tinha se calhar escrito nada. São importantes, mas não gosto deles. Parecem os dicionários, não apetece levá-los para a cama embora façam falta.

Depois os verdes. São blogs contentes. São blogs feitos de pequenos recortes. "hoje o dia correu bem, estive com os meus amigos". Não sabemos nada do que se passa para lá dos recortes. Temos de voltar aos azuis para saber que andam a matar focas no Alasca, mas é nos verdes que encontramos os olhos da foca bébé. Gosto muito deles, mesmo que não tenha nada a dizer. Às vezes são pintados de negro, mas é um negro que há-de passar. Não sabia que havia tantos.

E de repente estamos nos amarelos. Também são recortes, mas são recortes esquisitos. São os blogs da ironia, que é das coisas de que eu menos gosto no mundo. Às vezes parecem-me pepinos, e eu não gosto de pepinos. Mesmo que façam rir, e às vezes fazem rir muito. São os blogs de quem pensa na raiva (porque se sente a raiva, já estamos no vermelho, que vem a seguir). São feitos de denunciar. Eu fiquei com a ideia de que denunciar era feio, mas quando era pequeno não sabia muitas coisas. Na maior parte deles denuncia-se a Igreja, e às vezes denuncia-se Deus. Fazem-me lembrar os quadros da Paula Rego, os livros do Saramago. Deus os denuncie aos comités Nobel (e pronto, a ironia é contagiosa, é por isso que não gosto dela).

E na outra ponta os blogs vermelhos, feitos de raiva. Às vezes a raiva tem razão. São sítios de olhar o mundo com olhos de quem o quer mudar. Normalmente destroem. Tudo está em saber se um dia fecharão, ou se passarão antes para o amarelo, ou para o negro. O negro também olha, mas não quer mudar.

E talvez não seja bem assim, pensando bem. Deve ser porque hoje estou num dia verde.