Soube hoje que apareceu um ninho de andorinhas na parede da casa dos meus filhos. Vantagens de uma cidade pequena, e de uma cidade bonita. Aqui em Lisboa não me lembro de ver nenhuma (quanto mais ninhos), embora quando vagueio a pé durante a noite ouça galinhas em sítios impensáveis. E passam semanas sem que dê, sequer, pelo pôr-do-sol. Mas quando era miúdo sabia distinguir, pelo voo e pelo canto, pássaros de que agora já nem do nome me recordo.
E no entanto as cidades grandes têm vantagens. Não falo de compras e de consumo, a noite é diferente e vaguear é diferente também. Eu, tal como sou, prefiro viver na cidade grande. Mas numa cidade pequena, ou numa aldeia, mudaria o suficiente para não querer sair de lá (e não me digam que a vida é asfixiante; se for - e é, ou pode ser - o caminho é para o deserto australiano, as florestas do Canadá ou as praias do Brasil, não para aqui!).
Isto eu sei, mas não sei muito bem o que isto quer dizer. Adapto-me a qualquer sítio? Talvez, até agora só me senti mesmo infeliz durante a tropa (bem, a recruta, que saudades... mas isso fica para outra altura). Não me adapto a sítio nenhum? Penso que seria feliz em qualquer lado onde pudesse dormir e ter livros (mas tenho medo de bichos pequenos). E já me disseram que isso é o maior sintoma de inadaptação: estou bem, ou menos mal, desde que não tenha de interagir.
Sim, vou estando bem aqui em Lisboa, e duvido que venha alguma vez a viajar pelo mundo; mas tenho pena que não baste a Primavera para ter comigo uma andorinha.
22.4.04
A Primavera não faz uma andorinha
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