25.7.04

A verdade parece a morte.

Diz o João Miguel Fernandes Jorge, que cada vez mais é o nosso poeta maior. A verdade parece a morte, e por isso só os nossos olhos parecem a vida.

Quererá Deus que os homens lhe cheguem agora aos pares? Talvez isso seja assim desde o princípio do mundo. Talvez o Carlos Paredes saiba agora a música exacta dos versos puros da Sophia. Talvez o Serge Reggiani saiba agora cantar a dor escondida nos braços fortes e no olhar de dentro do Marlon Brando. Talvez estejamos mais sós, talvez. E quem mais nos terá deixado, quem anda ainda na terra que é o caminho maior?

A verdade parece a morte, porque na verdade todas as cores do mundo são as cores negras do mundo. Azul negro é o mar. Vermelho negro o coração dos homens. Branco-escuro o silêncio que não sabemos quebrar. Verde-negra a cor da relva que os amantes pisaram. A verdade parece a morte, e a morte parece os dias.

Por isso nós, nós que ainda andamos na terra, fazemos sem saber o caminho que se refaz até ao lugar do início, o caminho grande que leva ao princípio de todas as coisas. Hoje é 25 de Julho, dia de Santiago Maior na minha meiga Galicia. Hoje, dia de Santiago em ano Xacobeo, toda a Terra é o caminho que os peregrinos fazem a andar.

A verdade parece a morte, sim. E a vida parece feita de coisa nenhuma, azul negro é o mar