Tocar
Às vezes sento-me ao teclado como se me sentasse a um piano. Acontece-me isso à noite, quando o tempo anda devagar. Experimento palavras como se as ouvisse. Escrevo. Apago. Começo outra vez. Depois, devagarinho, alguém começa a cantar. Eu só acompanho. Mas é raro continuar. Nessa altura, quase sem dar por ela, fecho os olhos para escutar mais. Ao longe, muito ao longe, a canção dorida do mundo. Não há luz. Isto é o mais próximo que já estive da paz. Nós em Portugal não nos apercebemos de como a língua diz o mistério: tocar (to touch, to play).
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