As árvores dançam
no espaço no tempo
são cordas vibrando
nos dedos do vento
Desfolham-se os ramos
destelham-se as casas
e sobem às nuvens
raízes com asas
e à fúria do vento,
vazios, cansados,
os homens entregam
os sonhos frustrados.
Destroços sem vida,
de vidas incalmas,
evolam-se os corpos,
só ficam as almas:
e as almas esfriam
na noite assombrada,
sedentas de tudo
já não pedem nada;
nem mal que lhes doa,
nem bem que as conforte,
são cordas vibrando
nos dedos da morte.
Nunca soube de quem são estes versos lindíssimos. Terão, pelo menos, trinta anos, e talvez sejam mais antigos. Sei que já foram cantados em noites calmas como se fossem um fado, ouvi-os eu em Lisboa, num bar que já não existe, como se fossem um choro. Tinha eu dezoito anos e não os voltei a esquecer. Gótico, digo, gótico puro, e não sei se a pessoa que os escreveu, se a pessoa que os cantava, se a pessoa que mos mostrou há tanto tempo compreenderiam alguma coisa disso, julgo que não.
Não havia eyeliner e não havia correntes de metal. Não havia tanta coisa que daqui a uns anos não haverá outra vez. Pode-se ser gótico e não se saber, como se pode ser homem e saber tão pouco do que isso seja. Mas há coisas nas almas de alguns que andam por aí desde sempre. São talvez os anjos baços.
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