Às vezes ando contente, mas estar alegre não sei mesmo o que seja. Não penso que se trate de morbidez ou de depressão. Compreendo, e sinto, que no mundo haja coisas suaves que fazem lembrar mergulhar em águas tranquilas: por exemplo, mergulhar em águas tranquilas; mas a presença de umas coisas não me faz nunca esquecer a presença eterna das outras coisas todas. Não sei o que seja "distrair". Não sei o que seja "não quero pensar nisso". Saber que morreu alguém não me parece motivo para não falar da morte. Saber que alguém tem medo a fantasmas não me parece razão para não contar histórias que me aconteceram. De modo que quando estou num sítio qualquer, a ver e ouvir as coisas que se passam nesse sítio, continuam vivas dentro de mim todas as cores, todas as dores, todos os medos. É embaraçoso quando à minha volta (quando para as pessoas à minha volta) só existe, por exemplo, uma salsa latina.
Sou feito de penumbra.
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