24.5.05

O mundo, quase sempre



Quase sempre é assim o mundo, e por isso andamos sempre quase tristes, quase a quebrar. Contaram-nos tudo ao contrário, não demos ouvidos a coisas que nos disseram? Tão fáceis. E queríamos que fossem anjos a carregar-nos, e para isso asas grandes, rosto a sorrir. Mas não foi assim, pois não, não foi assim que as coisas nos foram. E agora o anjo ferido só me tem a mim para o levar, e ao rapazito grave só restam as minhas mãos para emparelhar as suas. Coitado do anjo ferido, do céu tão baixo, das flores tão simples que o anjo branco já não sabe ver. Coitado de mim se parar agora.

Quase sempre é o mundo assim, e quase sempre andamos nele como se não houvesse quem carregar e não tivéssemos visto nada. Como se as asas não fossem tintas de sangue ou manchadas de lama ou sujas de pó, como se os anjos se não ferissem e nós fôssemos feitos para andar nas nuvens. E por isso quando o medo me tenta ou a felicidade me tenta, canto baixinho os passos cansados dos meninos feios, as mãos confiantes dos anjos frágeis. Não sei chorar e não gosto de rir, sabes? Mas talvez seja bom andar sério enquanto na terra os anjos tremerem.


[pintura: anjo ferido, de Hugo Simberg.
Pintado em 1903. No Museu de arte finlandesa de Helsinquia]

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Goldmundo, desculpa, nao costumo vir visitar te, mas..vi o teu mail e soou me mt familiar. nos nao falamos ja mt no msn? Lion dande ou ha mais ou era ctg que falava... era advogado ja era mais velho que eu de certeza? e vivia em lisboa? Nem que seja so parta me dares uma resposta, qd puders, diz me qqr coisa. Obrigada.

Vampiria
(http://satanlandia.blogs.sapo.pt)

24/5/05 12:51  

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