Venho agora de um jardim com sombras e bancos de madeira com tinta a quebrar e flores que talvez sejam alfazemas. Venho agora de um passeio pequeno e duas igrejas estavam fechadas, hei-de voltar quando a tarde for mais andada. Venho com um livro encadernado na mão, finalmente mergulhei no Dostoïevski tão grande, "se alguém me provasse que a verdade estava contra Cristo, eu preferiria ficar com Cristo contra a verdade". Venho agora deste Domingo tão igual.
Tenho coisas a dizer coisas a contar, mas não quero agora agitar as águas. Venho de um jardim onde um pombo pousou na água verde de um bebedouro pequeno. Dei um cigarro a um sem-abrigo ruivo que me perguntou se era a Bíblia que eu levava. A rapariga mais bonita do bairro tomou café ao meu lado pela manhã, e gostava de ter sido eu a desenhar-lhe a tatuagem marítima. Em Junho todas as coisas são perfume de flores.
Leio as primeiras páginas d'"Os Pobres", leio a primeira carta de amor de Makar Alexéievitch Diévouchkine para a sua Varvara Dobrosiolova, e leio-as ao som de risos em russo dos que na sombra ao lado se sentavam. Penso que tem de haver rios imensos e lagos num país que fala e canta como se andasse a remar. Penso que estou aqui, nesta Lisboa cansada. Um dia hei-de pousar seda nos teus ombros.
1 Comments:
Sendo eu uma eterna romantica...
Adoro sentar-me num banco de um jardim, num bom dia de verao a ler um bom romance...
Como sabe bem.
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