Estou tão feliz, estive a chorar. Meia hora de lágrimas a correr, que há tanto tempo não sabia. Meia hora a sentir a vida chegar. Era isto que me faltava.
Um filme, sim, Les uns et les autres, e há tanto tempo que o não via. Quando o descobri num cinema triste do Porto, há tantos anos, fiquei tão preso que durante sete dias o fui ver sete vezes. E depois, até ontem, foi só uma memória doce: a memória de uma dança, de uma música, de palavras, de silêncios. Tudo aquilo de que todos andamos à procura, mostrado como se fosse uma coisa simples, aquilo de que todos fugimos, mostrado como se fosse uma coisa pequena.
"Todos são o outro para cada um, mas raramente somos o Um para cada um dos outros". Uns e outros, uns sem os outros, os outros sem ninguém. Ah, e vejam o Bolero de Ravel como não se acredita que possa ser dançado. Foi assim, de certeza, que dançou o primeiro homem, no primeiro dia do mundo. Vejam o Bolero de Ravel cantado como não sabíamos que pudesse ser cantado. Assim deve ter cantado a primeira mulher na primeira noite do mundo. Vejam o silêncio de Paris. Assim deve ser o último dia. É tão bom chorar, estou tão contente.
2 Comments:
Lembro-me de ter sentido um "frisson" quando vi o filme ...era o Nureyev ou o Barysnikov que dançava com um pano vermelho amarrado à cabeça?!
O romantismo que já não se vê e do qual o coração tem saudades...
Estou farta de escrever, hoje...
Era um argentino, Daniel qualquer coisa... mas interpretava o Nureyev. Aproveita agora, Luz: anda à venda a oito euros :P
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