29.5.05

What kind of extraterrestrial are you? (Part 2)

(para quem goste de cuscar estas coisas: seguimento de um post de 21 de Abril. O mundo é estranho. Três pessoas que não podem estar combinadas - não sou assim TÃO paranoico - vieram perguntar-me se sou gay. Fui reler. Terá sido por gostar de diospiros?)

1. Tenho horror àqueles bonecos italianos, arlequins ou lá como se chamam. Os pretos e brancos com lágrimas. Preferia dormir num quarto assombrado a dormir junto daquilo.

2. Só houve até agora uma coisa que não consegui comer: angulas. E era um jantar de cerimónia. Angulas são uma espécie de minhocas que se apanham nos rios do Norte e da Galiza (não sei se para as bandas do sul também as há), e que se vendem a peso de ouro. Ficas a olhar para um prato com minhocas brancas fininhas COM OLHOS.

3. Não consigo rezar numa igreja moderna. É como rezar num cinema. Gosto de capelas de aldeia, ou de grandes igrejas antigas, escuras e vazias, nas cidades. Penso que Deus não gosta de muita luz, nem de muitas cores.

4. Descendo de ciganos andaluzes, fidalgos galegos, camponeses do Minho e do Douro, marinheiros do Porto, índios da Amazónia e talvez judeus da Beira-Alta. Escolhi a Galiza celta como pátria adoptiva, porque é a mais irreal das terras do mundo. Mas em Paris, por duas vezes, fui abordado por homens tão escuros como eu: "frère, es-tu arabe?" ("irmão, és árabe?"). E sim, devo ser.

5. Sempre soube que o oposto de uma grande verdade não é um grande erro, mas uma outra grande verdade. Mais tarde encontrei esta frase (e esqueci-me de quem a fez). Mas isto é sempre um obstáculo à comunicação. Vivo no meio de pessoas que julgam que todos os outros devem estar errados, ou de pessoas que acham que ninguém pode estar errado.

6. Como a Clara (minha terapeuta) me ajudou a descobrir, no fundo de mim há um medo informe, como uma aranha que aguarda. Não sei ainda quem é esse eu aracnídeo. Uma noite enfrentá-la-ei.

7. Acho estranha a preocupação com "sermos nós próprios". Como se pudéssemos ser outra coisa.

8. Não sei porque é que as pessoas acham que sorrir é parecido com rir. É como dizer que amor é parecido com sexo.

9. Descobri, com grande surpresa, que deixei de odiar pepinos. Como julgava que ainda os odiava, não os comia há anos. Que desperdício. Que grande lição.

10. O Fernando Pessoa impossibilitou a poesia em Portugal. Quando tudo está dito, escrever mais só pode ser um narcisismo oco. Restam as pequenas histórias, as frases soltas.

11. Este ano quero atravessar a Espanha, devagar. Sentir o barro, as árvores, a lua em Aragão e os rios na Catalunha, os sinos das igrejas em Castela e o silêncio mágico da Galiza. Este ano quero dormir.

12. Gosto de saber coisas inúteis. Não tenho jeito para a mecânica. Só compreendo uma paisagem quando sei a sua história. Só compreendo uma pessoa quando invento a sua história. Gostava de ler já as últimas páginas da minha.

13. Gostava de ficar, quando morrer, num daqueles cemitérios ingleses feitos de relva e de cruzes e de estátuas de anjos. Possivelmente espera-me outra coisa. E gostava de ter, em vez de um elogio feito por um padre apressado, uma música que fosse igual ao que eu afinal tiver sido.

14. Sinto-me bem com botas, com sandálias, descalço. Os sapatos incomodam-me sempre.

15. Sei exactamente quem é a única pessoa que me permite um amor inteiro. Que importa onde está ela, onde eu estou.

16. Nunca se deve pôr açúcar no leite. Mesmo estando com gripe.

17. Rosas.