Não sei quem é a AstraZeneca (alguém se lembra da AnacoZeca???), mas aqui está um link que pode ser útil:
http://www.saude-mental.net/index.php?article=119&visual=4
Chamo em especial a atenção para as seguintes afirmações (ver os links associados):
"Aproximadamente 1% da população desenvolve esta doença - ou seja, em cada 10 milhões de habitantes (a população de Portugal) cerca de 100 mil desenvolvem a doença"
·· Comportamentos inofensivos, como por exemplo ler a Bíblia, tirar as plantas do quarto, vestir-se de preto, num indivíduo em particular, podem ser sinais de um agravamento. Se isto acontecer os familiares deverão comunicar imediatamente ao médico, pois só este poderá avaliar a gravidade dos mesmos"
Os estudos mostram que após 10 anos de tratamento, ¼ dos doentes esquizofrénicos estudados recuperou completamente, ¼ melhorou bastante e ¼ melhorou mas não muito. Quinze por cento não melhoraram e 10% morreram, geralmente por suicídio ou acidente.
Vale a pena dar uma olhada no resto. De qualquer forma, aqui ficam algumas coisas mais:
- "esquizofrenia" é uma palavra inventada ("cunhada" é a palavra que normalmente se utiliza) recentemente. Data dos primeiros anos do séc. XX e deve-se a um psiquiatra contemporâneo de Freud, chamado Bleuler: É composta, como sempre acontece nas palavras médicas, por termos gregos: "schizo", que quer dizer "cortado, dividido", e "frenos", que quer dizer "alma" ou "coração" (no sentido emocional). Portanto, "alma dividida" ou "coração partido" seriam expressões apropriadas em língua portuguesa.
- a palavra apareceu pouco tempo depois de os médicos psiquiatras terem começado a prestar atenção aos sintomas que lhe estão associados: numa primeira fase (fins do séc. XIX) falava-se em "demência precoce" no sentido de ser uma loucura surgida pelos vinte anos de idade, ao contrário da "loucura" mais clássica, a "senilidade", própria dos velhos.
- os psicanalistas (não confundir com psiquiatras) ou, pelo menos, alguns deles, tendem a ver aqui o resultado de uma situação criada na primeira infância (até, para alguns não-freudianos, antes do nascimento ou imediatamente após ele) e que corresponde a qualquer coisa como uma "incompleta" construção do sentimento de si (o "ego"). Disto hei-de falar uma outra vez, é a parte para mim mais interessante.
- algumas pessoas de "alma dividida" conseguem, apesar de tudo, ter suficiente controle (?) sobre o seu comportamento para serem (mais ou menos) aceites nas interacções sociais padrão: há nelas um factor "esquizoide" mas não (ainda) uma "esquizofrenia". Esta corresponde a uma situação de ruptura total.
- como se vê aliás dos textos que linkei, isto pode estar associado a um estado depressivo permanente (mas não É uma depressão) e pode originar um comportamento paranoico (mas não É uma paranoia).
- quem tiver visto o filme Uma Mente Brilhante ( história inspirada no economista John Nash Jr, Nobel de 1994 ) pode ter ficado com uma impressão distorcida disto. Encontra-se facilmente na net muita informação sobre isto. Designadamente, as "visões" nunca existiram na realidade (e o casamento dele não foi tão açucarado).
- durante anos e anos, o tratamento típico era... choques eléctricos (!) e internamento num tipo especial de prisões a que se chamam "hospitais". As coisas melhoraram um pouco ultimamente.
- há um enorme problema moral, político e legal associado a tudo isto. Algumas pessoas têm uma percepção "diferente" da realidade. "Diferente" de quem? Das pessoas que se consideram a si mesmas "sãs" (em primeira linha, polícias, famílias e psiquiatras) e que decidem (claro, para o seu "bem") interná-las e dar-lhes choques eléctricos ou "medicamentação". Talvez algumas pessoas homossexuais entendam o que isto pode querer dizer. Se não, eu explico de bom grado.
- a AnacoZeca deve ser uma multinacional farmacêutica (se não for, peço perdão). No site que linkei só se fala nos "modernos medicamentos". O drama é que a maior parte das pessoas "doentes" não quer ouvir falar de médicos nem de hospitais nem de tartamentos modernos. Quer ser deixada em paz (pelos outros, por si mesma). Está terrivelmente assustada a um nível mais profundo do que o mais fundo abismo. Sente-se (e com razão) incompreendida pelas pessoas que a rodearam e a sufocaram desde que era uma criancita. Isto para dizer que não basta ir a correr à farmácia comprar as coisinhas milagrosas. Vejam os números: metade das pessoas varia entre o "melhorou, mas não muito" (depois de ser torturada durante anos) e "olha, morreu". É obra. Deixo aqui um link (infelizmente em inglês) de quem não acredita na "medicamentação" como solução:
http://www.webcom.com/thrive/schizo/welcome.shtml
- conto fazer um destes dias um outro post sobre o que me parecem ser os "primeiros traços" da alma dividida. Isso sim, poderá ser interessante (lá estou eu com a tentação de adivinhar o perfil das pessoas que me lêem). Mas de qualquer forma, não se esqueçam: cem mil pessoas em Portugal. Há um esquizoide perto de si (dentro de si?). Trate-o com respeito (se escrevesse em inglês, poderia dizer "with love").
- e às vezes as coisas pioram em mim. Era isto que eu queria dizer com a Serpente que passa (a propósito, isso é parte de um poema de Ângelo de Lima, um esquizofrénico que deixou algumas das maiores poesias que já se fizeram em Portugal. E que morreu em Rilhafoles. Coitado do Álvaro de Campos, não é? Coitado do Ângelo de Lima).
23.8.05
Esquizoide (Schizo) I
14 Comments:
Vivi muitos anos com um "coração partido"!! "Alma dividida" por não haver Amor por aqui...
Penso que as coisas mais importantes, aprendi com ela- aquela a quem chamavam louca...e na profundidade das interrogações que me colocava eu achava que se houvesse alguém "anormal" ali, esse alguém era eu!
Suicidou-se porque amava mais as flores do que ela própria!
(e isso foi uma lição para mim!)
repito-te para mim própria - descobri (há muito) que sou esquizoíde!
durante as férias, aproveitei para reler Artaud ("Van Gogh: o suicidado da sociedade"); apesar de reconhecer alguns excessos na análise que ele faz, concordo basicamente com a mesma. afligem-me estas cruzadas que têm como missão "normalizar" os comportamentos. não quero dizer que não haja casos que justifiquem um acompanhamento: cada caso é um caso, cada pessoa é um mundo e há pessoas com muitos mundos dentro. é importante que deixemos os outros (os outros, dentro ou fora de nós) respirar, se é que me faço entender com isto. muitas vezes eu própria sinto que a minha hiper-sensibilidade é considerada por muitos como uma doença e não como um privilégio.
Sophia... duvido que isto tenha a ver com "amor"... no sentido que julgo lhe dás. (talvez voltemos a falar disso)
Aquilária: respirar. sim, fazes entender-te. como sempre.
Venus. Pois. Tenho montes de duvidas sobre as deficiencias enzimáticas. Mas isso vem das minhas duvidas sobre a causalidade. Porque é que é a quimica que "causa" a alma e não o contrário????
As coisas "reais" existem fora da nossa mente? Por exemplo: FORA DAS NOSSAS MENTES, o dr. josé sócrates é REALMENTE o primeiro-ministro de Portugal??!! Se não houvesse MENTES no universo, ele seria isso? (Compreendes o que querom dizer?)
É. Complicado e fascinante. MAs não há como fugir-lhe. E não estou a dizer isto por especulação intelectual. Eu qualquer dia tenho a AnacoZeca atrás de mim.
Por falar nisso, já sei quem eles são: uma das cinco grandes farmacêuticas do mundo. E um dos cinco grandes produtores de transgénicos. A pastilha para os maluquinhos parece ser a jóia da coroa deles.
(tenho fases realmente paranoicas)
Duvido que a alma seja mais que a mente. E não é pouco.
Já repararam na dificuldade que um médico tem em fazer um diagnóstico correcto e uma avaliação do estado de evolução da hipotética doença com as condicionantes de hoje em dia... É muito fácil enganar um médico hoje, maior parte das pessoas quando vão ao consultório já vão com uma ideia (regra geral errada) do que têm porque leram sabe-se lá onde os sintomas e tomaram uma decisão em 3min. com dois dias de informação, muitas vezes duvidosa... e depois ainda existem condicionantes monetárias ou de tempo em que obrigamos o médico a decidir numa consulta o que deveria ser decidido em várias, não posso esperar que uma pessoa que não me conhece faça um julgamento de personalidade em 15/30min de consulta... Já para não falar que parece moda, os anti-depressivos... nunca vi tanta gente com um sorriso na cara a dizer que os toma. Engraçado as voltas que o mundo dá, houve uma altura em que quem ia ao psicologo era considerado maluco, agora é fashion... fuck it...
Desculpa goldmundo...parece que libertei o stress onde não devia :s
[]
O peso na consciencia leva-me a dizer mais qualquer coisa... o comentário anterior não pretende ser uma defesa cega dos médicos, nem tão pouco se refere a ti (goldmundo) é apenas uma visão diferente. Mais uma vez 1[]
quero essa conversa Gold.!
Alô, alô!
Se alguém se lembra da AnacoZeca?!... Caramba, eu tive uma parte da parede do meu quarto coberta por capas de revistas do Zé Carioca, cujas páginas eu afilava cuidadosamente num grosso dossier…
Cuidado com as generalizações que, valendo o que valem, por vezes, na subsumpção baralho dados das particularidades que sob elas “caem”. Neuroses e psicoses há muitas… Umas são fundamentais, e derivam do carácter paradoxal da existência em que todo o sentido possível deflagra nas contradições que a sua execução acarreta: as igrejas politizam-se, o amor entedia-se, a vida morre, e por aí fora… Outras são psicológicas, e muitas vezes resultados das primeiras, ou duma vivência traumática, ou dum deflagre bioquímico. Isto teoricamente. É evidente que, como toda a apreensão da existência e das suas condições, aproveitamentos diversos surgem, assim como por outro lado, a sociabilização implica uma construção comum do sujeito que por vezes sufoca até à morte ou a inacção determinadas particularidades.
Depressões há muitas. Vestir-se de preto ou tirar as plantas (a vida) do quarto pode ser uma resposta adequada ao absurdo da vida. Pode ser a psicogénese duma brilhante “resolução”. O médico é muitas vezes uma instância mais problemática que resolutiva.
Quanto à incompleta construção do ego, que se subsumirá provavelmente no superego produzindo fixismo e fanatismo ou não, evidentemente que não se vai lá com química – a não ser, como dizes, lobotomicamente, visto um “vegetal” não ter actividade para nada. Cortar a cabeça anula o problema mas não o resolve.
A existência é uma tensão que divide (por isso certas escolhas dilaceram a alma…)
O que quero dizer é que não é preto e branco. Não há de uma lado os poetas de alma desperada e lírica e do outro os tecnocratas de regime catalogando e controlando e eliminando o fora-de-regime. O que não significa que tal não aconteça mesclado com uma confusão de outras graças e desgraças.
Quanto à leitura da Bíblia… Pois, é evidentemente um livro perigoso, como o são todos os que explanam o terror da vida e clamam respostas. Para além disso, enquanto cristão, ele é para mim mais do que um livro – quero dizer, não é bem um livro com os outros.
Acabo estas breves e displicentes notas com uma informação interpretada da investigação médica na sociedade mercantilista: investiga-se mais o cancro e a sida do que a malária porque muitos presentes e futuros atingidos pelas primeiras têm mais dinheiro para comprar medicamentos e consultas médicas do que os habitantes dos países onde a malária expõe a sua glória.
Um abraço.
Obrigado, Vitor. Gostei muito. As coisas que dizes são sempre certeiras sem serem frias, e não sei se te apercebes que isso é muito importante.
A AnacoZeca (a outra) é uma coisa que fez parte de mim (julgo que se sumiu do mundo dos mais novos):)
Relativamente a mim, o triplo teste dos senhores da AstraZeneca deu positivo: visto-me de preto, leio a Bíblia e não tiro plantas de casa porque nunca deixaria que elas lá entrassem. Achei ofensivas duas das três; tendo a pensar que preocupante é uma multinacional farmacêutica que é também um dos grandes fabricantes de plantas geneticamente modificadas, e de sabe deus mais o quê. Mas devo ser eu o paranoico :)
E hei-de dizer mais coisas quando a isto voltar, noutro post. Abraço.
A Anacozeca é a sigla da famosa Asociação Nacional dos Cobradores do Zé Carioca. Não há nenhum prémio para quem acerta, Gold?
Mefi (www.tapornumporco.blogspot.com)
Estás convencido que és esquizofrénico, Gold? (Ou não queres dizer?)
Propriamente "esquizofrenico" acho que não. Acho que não deixei de fazer a ponte com a "realidade". Queria fazer um post grande sobre isso - é o tipo de coisas para que preciso de uma noite tranquila, e de álcool ou música.
eu infelizmente acabo de descobrir que sou esquizoide... sou uma jovem de 17 anos, e tenho tido todos os sintomas dessa doença. hoje decidi perceber o que realmente se passa comigo, e atraves de alguns sintomas que apresento, procurei na internet, acabando por descobrir varios sites, que me indicam de forma integral todos os sintomas que possuo. infelizmente, nao vejo a maneira de contar isto ás pessoas em meu redor, e de pedir ajuda. em parte sinto que terei de ultrapassar isto, simplesmente nao sei como. ja pedi ajuda a algumas pessoas, mas mesmo assim nao sao capazes de me compreender, ate porque nao quero mostrar quem realmente sou. mesmo assim, deve haver uma solução, acho... provavelmente terei de ter tratamento psicológico. mas receio de ter de admitir esta doença aos outros. mas terei de o fazer!
Enviar um comentário
<< Home