Prendi-me a coisas como se tivesse medo que elas se não prendessem a mim, me não guardassem. Prendi-me a lugares e a histórias e a pedaços de música e algumas vezes até a coisas frágeis: um sorriso que não era comigo, uma carta de amor que por engano abri. Prendi-me a todas as sombras do sol, amarrei por dentro as tardes calmas. Prendi, aprendi. Prendi-me a coisas nenhumas, ao ver que as coisas todas me largavam. Prendi-me à ribeira como se nela prendesse a rapariga de outono. Necromante de mim. Perdi-me. Não aprendi coisa nenhuma.
Parei, como se subisse a uma colina pequena. Como se tivesse saltado o muro e tivesse outra vez a bicicleta que foi comigo há tantos anos. Prendi-me, perdi. Os caminhos dão voltas às coisas, nenhum deles levou a mim. Nenhum deles me levou. Não sei porque é que o fim não é a primeira coisa a saber-se. Porque é que não começo por escrever o último parágrafo.
10 Comments:
ólá gold...axo que só teremos a noção do caminho quando já o tivermos feito...a noção do fim quando já tivermos vivido, quando já estivermos impregnados e tivermos impregnado outros...aí ganharemos a noção que o nosso odor, o que transportamos, é diferente dakele que partiu, apesar de já ter sido o mesmo...o fim é sempre a tristeza do desencontro, da irremediável perda que levou um pedaço de mim...é doloroso...sem dúvida...
De passagem
Porque o "fim" do caminho não existe, "Não somos nós que percebemos as coisas, são elas que nos percebem a nós" um amigo ensinou-me isto, não há muito tempo. ;) []
Das utopias
Se as coisas são inatingíveis..ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!
Mário Quintana
"...Quem fez os homens e deu vida aos lobos?
Santa Tereza em místicos arroubos?
Os monstros? E os profetas? E o luar?
Quem nos deu asas para andar de rastros?
Quem nos deu olhos para ver os astros
- Sem nos dar braços para os alcançar?"
Florbela Espanca
As tuas entradas são mais crípticas que a relação entre a Atlântida, a maçonaria e o Mário Soares.
Mas talvez agora eu esteja a perceber porquê. Nós mostramos o que recebemos.
(Agora fui eu que fui críptica.)
Carta de navegar
"leer las aguas" será siempre un sueño
mayor que mis estudios. No consigo
leerme por debajo, serme dueño,
tonerlas todas, a la vez, conmigo.
Flotan sombras de mí, maderas mortas.
Pero la estrella nace sin reproche
sobre las manos de este niño, expertas,
que conquistan las aguas y la noche
Me ha de bastar saber que Tú me sabes
entero, desde antes de mis días;
que en Ti voy siendo la verdade que hago;
que has puesto en mis tesoros y en mis llaves
Tus luminosos ojos por vigías
iy que eres mi Camino de Santiago!
D. Pedro Casaldáliga
Crí(p)tica ou não, a única, sim. Terei sido agora semelhante a ti?
"Mostramos o que recebemos". Gostei disso.
MC, foge daqui. A noite alarga mas não larga.
"Mostramos o que recebemos". Gostei disso.
Mas tb recebemos o que damos/mostramos.
[contudo nem sempre, que nem tudo na vida é linear...]
*
Só podemos dar aquilo que temos... e talvez só tenhamos aquilo que recebemos...misturado com o que sabemos nunca poder ter...
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