26.7.05

Maré Negra

1. Hoje (isto é, dia 25, dia de Santiago) faz dezasseis meses que a gotika me ofereceu a ribeira; na altura não imaginava que me desse tanto prazer escrever tanto, nem que escrever me fosse fazendo tão bem.

2. Com raras excepções, escrevo só para mim, mesmo quando me falo com outros; e no entanto a ribeira não tinha tido metade do interesse se não fosse, ao mesmo tempo que uma espécie de auto-análise, também o reflexo em bruto de coisas que pelos outros vou sentindo. Pelos outros, ou seja, pelas palavras que aqui ou noutros blogs deixam - porque dos outros (dos outros-mesmo) nada sei ainda. E duvido que alguém saiba.

3. Nos "comentários" as coisas são um bocadinho diferentes: tento calar o que sinto, e responder ao que me foi realmente dito. Por isso é raro aí eu não parecer... acolhedor, coisa que realmente me não parece que seja. Hóspedes são hóspedes, e as leis antigas são sagradas.

4. No meio, tive muita sorte: foram raros os visitantes que não deixassem saudade, e aprendi a sentir melhor coisas que afinal já sabia: de facto os corpos pouco interessam, e de máscara posta andamos todos, mesmo que seja a máscara da verdade. Não entendo muito bem as pessoas que dizem que este é um mundo "virtual", no sentido de "não-real".

5. E agora, o drama. Andei meses com uma hesitação grande: devo ou não sujar a ribeira com as sombras do mundo? Não quis, no início, falar das coisas que vêm, ou poderiam ter vindo, em jornais e revistas - só serviria para me distrair de mim, e era para mim que eu queria olhar com cuidado. Agora estou um pouco mais forte, ou um pouco mais habituado à escuridão. E o mundo está a chegar a um ponto em que é estranho ficar calado.

6. No entanto gosto de ter (de ser) este lugar sossegado. E não me apetece chamar pela confusão. Na dúvida, criei outro blog. É, e será durante algum tempo, apenas uma experiência. Não sei se o quero manter. Duvido que tenha tempo. Não sei se vale a pena. Maré Negra. Nos links está na sombra dos dias, ao lado de outros que, esses sim, valem a pena. Mas não tinha mais onde o pôr.

15 Comments:

Blogger katrina a gotika said...

Ena! E o menino cresceu, e já anda sozinho!

:D

Parabéns!

26/7/05 03:51  
Blogger Goldmundo said...

don't feed the trolls... (por falar nisso, não, não sei o que é um troll...)

26/7/05 04:33  
Anonymous Anónimo said...

Boa, boa aposta na maré negra. mas não consigo comentar lá. Só aparece para Blogger. E eu sou "other". :p

26/7/05 11:30  
Blogger Goldmundo said...

regista-te, Silvia. É facil, e não é caro ;)

26/7/05 14:29  
Blogger aquilária said...

achei excelente a tua ideia de não misturares as àguas!
por vezes temi que isso acontecesse, sabes? vim parar a este blog por casualidade (procurava editora espanhola de "narciso e goldmundo") e esta ribeira negra, por tudo o que a caracteriza, passou a ser visita quase obrigatória. aqui aprendo, descubro afinidades, num saudável alheamento áquilo a que chamam actualidade. agradeço-te por tudo isso e desejo bom rumo, nessa viagem que agora inicias. lutar contra a maré negra é, também, uma arte.

26/7/05 16:12  
Anonymous Anónimo said...

Pra mim troll é uma pessoa que se veste de forma berrante, mas muito glamorosa, tipo drag-queen, com sapatos de tacão muito alto, daqueles que cobre o sapato todo e vai a discotecas onde apenas passa house music.

Primeiro que tudo, gostei do novo visual da Ribeira...já estava a precisar de lavar a cara! :)
Quanto ao outro blog é algo por que ansiava há muito tempo...só nos trouxeste coisas boas :)
-VenusDiablo-

26/7/05 22:33  
Blogger Goldmundo said...

"troll é uma pessoa que se veste de forma berrante, mas muito glamorosa, tipo drag-queen, com sapatos de tacão muito alto, daqueles que cobre o sapato todo e vai a discotecas onde apenas passa house music".

Ai, Venus.

A conversa do Troll vem de um comentario da gotika, ali em baixo:

"Gold, afinal decidi-me pelos comentários do Blogger porque o troll voltou. Se não sabes o que é um troll, ou comentários moderados, ou conta premium, esquece.". Típico dela :P

O Troll voltou. Mas quem é que anda de saltos altos na Ribeira?!

26/7/05 23:11  
Blogger katrina a gotika said...

Um troll é um gajo que anda à *trolitada* nos blogs dos outros.
Não me admiro nada que a palavra "trolitada" tenha vindo de troll, que é uma figura mítica... *suspiro* Vocês precisam de ler mais livros de folclore, fantasia, ou o Harry Potter.
Um troll na internet é mais uma espécie de poltergeist. Aparece, não desaparece, e não se sabe como nos vermos livre dele.
Neste caso, um padre não resolve.

27/7/05 01:59  
Blogger Goldmundo said...

ESSES trolls eu conheço!!!! (os do folclore)... mas com a conta premium no meio nunca chegava lá. De facto a realidade é mais simples do que às vezes imaginamos :)

Agora o troll-saltos-altos é novidade para mim (espero nunca ver nenhum, para esses é que acho que nem um bispo)

A ideia da "trolitada" é genial. Vou seguir a pista, sou viciado nessas coisas. Só duvido porque "troll" é escandinavo, creio. Mas a história das palavras dá mais voltas que um carrossel.

27/7/05 13:32  
Anonymous Anónimo said...

É um mundo virtual no sentido em que pode, para além de ser um meio de comunicação, produzir espaços de vida estritamente “netistas”, com todas as regras de acção e representação “virtuais”. Um pouco como um romance escrito “a vários”. Não é apenas isso que se passa na rede, mas esta é uma das suas possibilidades específicas. Há quem viva toda a sua vida afectiva, sexual e dialogante “virtualmente”. Quero dizer, eu não conheço ninguém que o faça (aliás, como poderia conhecê-lo(a)?), mas é pensável e possível.
Tem o seu quê de terrível.

Um abraço.

27/7/05 18:40  
Blogger Goldmundo said...

Mais terrível, Vitor, é que há quem viva tudo isso sem ser através da net... afectiva, sexual e dialogantemente diante de um mito, de um espelho ou de um fantasma. Sem o amor verdadeiro, todos os outros são abismos. Com ele, os corpos valem o que valem.

27/7/05 21:26  
Blogger katrina a gotika said...

Troll:
Não sei se será apenas escandinavo, mas segue a pista céltica. As palavras que vieram do frio.

28/7/05 04:13  
Blogger Goldmundo said...

Más notícias, prima. "troll", segundo o Webster's Dictionary, vem de facto do escandinavo antigo, e sobrevive no islandês, onde significa algo como "giant" ou "daemon" (não percebo como pode significar duas coisas tão diferentes...).

"Traulitada" (não existe "trolitada") é mais estranho. Dicionário da Academia: viria de "paulitada" que por sua vez de "paulito" (como nos pauliteiros de miranda) e de "pau". (não conheço nenhum caso em que "p" passe a "tr" - a regra da evolução é a da simplificação do esforço verbal, e nao o contrário). Mas entretanto lembrei-me de "trolha" ("andar à trolha", não sei se diz isso aqui no Sul). "Trolha" viria do latim "trulia" (que seria uma pequena vasilha de barro), sem mais explicações (isto e nada é a mesma coisa...).

Sigamos a pista enquanto está quente :P

28/7/05 15:58  
Anonymous Anónimo said...

Pois é, Goldmundo, toda a razão.

Isto da vida verdadeira é difícil como o raio!

Abraço.

28/7/05 16:30  
Anonymous Anónimo said...

LOLAOOOO tudo isto por causa dum troll!!!!!!!!
Sim, os trolls do folclore já os conhecia, como é evidente. Agora troll para pessoas que andam à "trolitada" no blog dos outros desconhecia...conhecia, sim, outra variante de troll, que significa pessoas estúpida (lá está, que andam à "trolitada", que no fundo é traulitada, no blog dos outros. Levar uma traulitada é levar com um pau no cucurutu da cabeça, daí a referência a paulitada e pauliteiros. Para quem não sabe o que é cucurutu= cimo, topo).
Mas tenho que admitir Goldmundo...eu já me vesti à troll!!!!!!!!! :O sim...e com o meu corpo meio masculino (prefiro usar a palavra musculado LOL), parecia uma drag-queen LOLAOOOOO mas esses tempos já lá vão!!!! Há muito tempo!!! :P
-VenusDiablo-

29/7/05 02:15  

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