23.5.06

A chuva, e os grandes olhos da chuva



Acho que já aqui falei uma vez do Demolidor: Daredevil, o filme. Aqui, na fotografia, a Jennifer Garner como a guardei para mim, misturada com coisas que para dentro de mim sempre andam. Elektra, sim, fui ao Google procurar imagens e encontrei uma mulher belíssima. Mas para essa não sei bem olhar, ou não sei o que faça com o que os meus olhos lhe fazem.

Uma história de super-heróis, o único a chorar devo eu ter sido na sala do cinema cheio. Havia um herói cego, os bons e os maus. Havia as coisas todas dos filmes todos de heróis, coisas tão fortes. Havia depois a Elektra, tão igual a ele menos nos olhos. Encontraram-se iguais, combateram-se iguais, enamoraram-se iguais. E quando em noite de luzes e arranha-céus a chuva chegou como se fosse o negro a chegar, trouxe-a o herói cego a um terraço lento e sem ela entender esperou o milagre inteiro: porque quando o mundo vibra na presença da chuva consegue ele ver por um momento breve. Ver. Sentir como se tivesse voltado a ver tudo, ver como se tudo sempre fizesse sentido. E ela vê também, e é como se fosse a primeira vez que se vê inteiramente vista. E depois a chuva vai embora, fica-dentro o negro a chorar.

Uma história de heróis, sim. E os heróis não me interessam nada. Já não me lembro dos bons nem dos maus. Mas isto guardei ou isto guardou-me, e reencontro-me na fundação do mundo. A chuva e os olhos e a mão que quase toca a verdade, ingratidão do tempo. No fim do mundo há-de haver uma ponte entre as mãos em que o mundo se faz areia a escorrer e os olhos que fazem da chuva o rosto eterno de Elektra. Há-de haver uma história que não precise de heróis.

A chuva, e os olhos grandes da chuva.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

e o nevoeiro...

24/5/06 14:50  
Blogger Klatuu o embuçado said...

Também sou fã desses!;)

24/5/06 23:09  
Blogger CVJ said...

A expressão do olhar diz sempre muito mais do que as palavras.

25/5/06 00:25  
Blogger riacho said...

E eu deste teu "filme", guardo isto ou eu fiquei aqui guardada:

"No fim do mundo há-de haver uma ponte entre as mãos em que o mundo se faz areia a escorrer e os olhos que fazem da chuva o rosto eterno de Elektra. Há-de haver uma história que não precise de heróis."

Linda, a tua visão. :-)

26/5/06 04:15  

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