Cai o tempo na terra dos corpos. Cai no mundo como o orvalho da manhã e as folhas de outono, engana-se quem creia haver nele coisa a passar. O tempo cai. Na densidade morta das coisas tomba, no fim o reino inútil da medição dos passos frios: que somos nós, para crermos ser isto só?
Na terra amarga o tempo pousa. Poeira do ser, como pó rejeitado na escadaria inabitada: pelos séculos dos séculos a sombra, a abissal majestade da sombra. E de poeira e sombra sou feito, se os olhos não me derem ver: não já o tempo, mas a forma que o tempo cala ao cair, a tremenda presença que o tempo caído oculta. Se os olhos me não deixarem dormir. Alma, na terra amarga os olhos morrem-se.
As coisas mandam-me olhar, da terra densa dos corpos. O olhar inteiro a que chamamos anjos. Em toda a contemplação há caminho de um templo, em todo o templo se desmente o tempo a cair. Na terra amarga eu caio: alma, no teu lugar sem nome os corpos gritam.
Há silêncio no tempo, tanta treva na imensidão dos mundos: alma, o tempo cai na terra dos mortos. À minha volta a terra, e em mim a espera silenciosa e frágil da terra. Por mim a espera ansiosa da terra: e todo o corpo é túmulo do verdadeiro Adão.
A língua, a negra ausência dos anjos: alma, nome oculto dos meus olhos de ver.
30.1.07
Alma, o tempo cai na terra dos corpos...
7 Comments:
a ausência dos anjos não é negra. é branca e cristalina. deus nos livre dos nossos salvadores...
...
Tudo isto é tão tu... Pesado, pesante, denso e também rarefeito. Passado e futuro.
Li e senti que conheço este texto desde sempre e vou recordá-lo para sempre.
"O tempo cai na terra dos m ortos". Cierto. Ultrapasada la frontera de la muerte, no hay tiempo. Todo permanece en un instante eterno.
Mas, caro amigo, no hay muertos. Viven en otra dimensión.
Somos llamados desde toda la eternidad para permanecer en un coloquio de Amor eterno.
Un fortísimo abrazo.
1.13 a.m que bom poder vaguear na noite e ainda encontrar uma ribeira, a tua ribeira...
O verdadeiro Adão nunca foi túmulo.
klatuu, pois não. Mas os seus filhos foram-no, dele. Daí que a cruz se tenha erguido "sobre o túmulo do primeiro homem": Golgota.
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