29.4.04

Finalmente, a noite durante uns dias.
Vou interromper o trabalho (férias, como agora se diz). Talvez uma semana. Ler. Vadiar. Olhar. Parar. Ser inteiro. Com sorte só tenho que falar com os senhores que me vendem bilhetes de comboio, cafés e coisas pequenas. Pode ser que vá a Santiago da minha Galiza. Ou ao Douro que é igual a mim. Ou encontre coisas maiores do que as que tenho encontrado. Ou reveja amigos que me fazem falta. Talvez ainda exista o único sítio em que em tantas noites de beber e dançar estive completo. Talvez haja um trevo de quatro folhas, ou aprenda a beleza dos trevos simples de três. E pode ser que eu vá comigo.

Vou ter saudades do meu gatinho, mas sei que ele nem dará por nada. Só não sei se a Ribeira me fará falta. Vou aproveitar para a ver mais ao longe. E pensar em quem serão as pessoas que têm às vezes a ideia estranha de aqui chegar.

Desde que esta história começou tenho falado muito de mim e muito pouco das coisas do mundo. Em parte é porque sou mesmo assim. Mas em parte é porque o mundo me tem vindo a entristecer. Há cada vez mais coisas insuportáveis à minha volta, e talvez seja preciso falar delas. É outra coisa que tenho para pensar nestes dias de andar à toa. Há tanto tempo que evito combater, a pretexto de que não há ganhar a guerra...

Daqui a uns dias talvez esteja de volta. À volta das mesmas coisas, e com tantas coisas por ver à minha volta.