O sol e eu
O calor desprende-me de mim. Nestes dias mais quentes talvez seja mais parecido com todos os outros: as horas passam-me como a um sonâmbulo, numa vaga recordação de quem seja para além da espessura imediata das coisas que à volta de mim me abafam.
Realmente não gosto disto. Das coisas de que sou feito guardo apenas uma vaga e cansada saudade: leio menos, sonho menos, nem sequer triste me sei sentir. Arrasto-me de olhos postos no chão. Os sonhos são ainda mais inquietos.
Só o mar me devolveria agora aos mundos grandes de dentro. Só o mar me libertaria do chão. Mas há dois anos que o não vejo quase... e ainda falta tanto para o ter outra vez.
Se a verdade parece a morte, a vida parece o sol.
[pintura: Depois do dilúvio: o quadragésimo-primeiro dia
de George Frederic Watts (cerca de 1885)]
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