Antigamente, quando os calendários ainda não estavam aperfeiçoados, havia de vez em quando um dia que não tinha nome, como um vinte e nove de Fevereiro suplementar. E para mim cada vez mais os dias doze a quinze de Agosto são também isso mesmo: uma coisa arrastada que devia ser passada só a dormir. Não depende de estar em férias, a não ser que por causa das férias eu nem me lembre que eles chegaram e foram; não depende de estar em Lisboa, a não ser que o trabalho seja tanto (mas que me lembre só foi uma vez) que os minutos não deixem ver as horas porque as horas são sempre cinco minutos depois. De doze a quinze de Agosto há três dias em que o tempo se detém, como se o ano andasse cansado demais para continuar.
(no meio, a catorze, foi Aljubarrota e faz todo o sentido que tenha sido um dia parado, como parado foi, um dia inteiro, o destino de Portugal e por ele o destino do Mundo)
E por isso na segunda-feira há-de começar um ano novo, sem festas e sem fogo de artifício (o que é bom), e hei-de contar mais um ano de idade embora não faça anos, o que não é nem bom nem mau. É que dentro de mim é agora que o ano passa, é quando o tempo pára que dentro de mim me ponho em marcha outra vez. Adeus 2004, olá Outono, olá tantas coisas que hão-de chegar, mundo-na-mesma. Que bom viver neste parado que é estar vivo. Até para o ano!
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