30.7.04

Afectos, valores, caminhos, tantas coisas...
 
Disse menos afectos e mais valores, e a Profetiza e a Kearinn recordam-me que o mundo tem falta de afecto. Pois tem. Como pode isso ser? É por os valores andarem perdidos que os afectos que há a mais fazem, todos juntos, um mundo sem afecto que chegue. Vou tentar explicar:

Ao contrário dos afectos, os valores servem para fazer as ferramentas mais úteis do mundo: as regras. Por exemplo, a hospitalidade. Quem bater à minha porta e pedir abrigo tem, e não interessa se eu "gosto" dessa pessoa ou não. Por exemplo o cumprimento de contratos. Quem contrata uma pessoa paga-lhe e trata-a decentemente, mesmo sem "afectos". No jornal li, há uns dias, um comentário ao naufrágio do Titanic. Ao contrário do que se vê no filme (mas o filme é feito no país dos "afectos" e da falta de valores, o dos ianques), não foi preciso que a tripulação apontasse armas aos homens ricos para salvar as crianças. Os homens mais poderosos do mundo cederam todos o seu lugar às mulheres, às crianças. Um deles, o Guggenheim que deu o nome aos museus que há agora, escreveu um bilhete para tentar despedir-se da mulher, que não estava lá. Escreveu "que ninguém possa dizer que fui um cobarde". Gosto mais disso do que se ele tivesse dito "eu gosto muito de um mundo feito de passarinhos azuis".