20.10.04

Nos dias em que ando mais triste, as coisas que leio ou as músicas fazem-me bem, mas distanciam-me ainda mais do mundo. Como se tudo fosse um filme, um sonho. Não gosto nada de me sentir assim, embora nesses momentos me sinta bem (isto é, quando não tenho de sair desse estado). A "realidade" toma a forma de um monstro emboscado. As pessoas ficam feias, os cheiros mais fortes, a sujidade mais visível. As coisas não são coisas, são ameaças. Por vezes passo na rua por uma rapariga (nao é geralmente uma rapariga muito bonita) que tem em si qualquer coisa de real, ou melhor, de mais forte que o real. Como se se destacasse de tudo, como se todos os pormenores dela - a roupa, o cabelo, a maneira de andar, aquilo que leva consigo - tivesse uma cor especial. Se a pudesse tocar como quem folheia um livro, se a pudesse interrrogar, ficaria bem. E tocar não significa tocar "touch". É tocar "play". Uma árvore tem o mesmo efeito. Mas tenho-me abstido de andar pela cidade a tocar em árvores, e em raparigas.

Talvez o mar fosse uma solução. Mas deixei o Verão passar, como deixei passar tanta coisa.