21.12.04

Madrinha

A minha Madrinha Gotika fez anos, ou fez anos o blog dela que é tudo, quase tudo o que dela sei. Hoje tem lá uns versos lindíssimos, como ela mesmo diz; e costuma dizer que não gosta de versos, embora eu ache que não gosta, antes, das coisas que os versos lhe dizem.

O que aqui fica não é uma tradução. É apenas o que consigo dizer de uma coisa que a Madrinha me ensinou a ver.

Obrigado, Gotika.



Deixa calar nas sombras que te abraçam
essas coisas frias que nos sonhos passam;
e deixa-as erguer-se em voz, fazer-se espuma,
nas noites feitas de estrela nenhuma.
Debruça-te sobre elas com ternura...
não lhes digas nada, dá-lhes sepultura...

Abre no teu coração a cova estreita,
deita-as de mansinho na noite perfeita...
estende sobre elas as asas tão quentes
(ardem e não voam...) das coisas que sentes.
E reza a mesma oração, devagarinho:
"possa o sangue inteiro ser em nós o vinho.."

Deixa calar. À tua volta o muro
fez-se luz quebrada, tempo sem futuro;
deixa calar os olhos que do mundo
guardam sombras quietas num silêncio fundo.
Vive toda em ti, e eternamente dorme:
sob a cruz tão branca canta a noite enorme...