Devo ao nome improvável de Aloïsio Montoya (com quem polemizei amargamente em Paris no rescaldo da segundo colóquio Sternberg sobre os desaparecidos manuscritos warburguianos) a última zanga com a inquieta Isabel Torrijo, e o primeiro encontro com a minha obsessão pelos espelhos quebrados de Coimbra. Cismava o sábio de Siracusa (tive nas mãos a edição veneziana da sua Hepteromachia Philoctaica, na obscura loja de Sesimbra a que me atraíra um vistoso e inútil catálogo de José Cebola) que huius in adventum iam nunc et Caspia regna responsis horrent divum, e no entanto nunca vislumbrei tão nitidamente o horror do familiar conceito de biblioteca como naquela tarde em que, procurando sonolentamente na net não sei que versos esquecidos do gongórico Canotillo - talvez o sublime soneto Se tu, magra Heritrópia, sempre foste - encontrei a denominação obscena do impostor repetidamente associada a um blog coimbrão que se murmurava ser mantido por muitos para ser, apenas, as faces incompletas do Único.
Desviei-me por um instante - nunca o lamentarei o suficiente - da doce música do autor da Cariátide Justíssima para contemplar a ligação que o acaso permitira ao plagiador de von Sttautfeld para com a desconhecida sigla TAPOR. Recordo-me, como num sonho, de percorrer textos impossíveis assinados por Dervixe (julguei reconhecer o estilo do meu amigo Luciano de Freitas) e comentários de Mangas que apenas pareceriam espontâneos a quem não conhecesse profundamente as catorze regras que sustentam o I Ching. Recuei perante o gnóstico cinismo de Manolete. Assombrei-me junto às imagens barrocas de Mefistófeles. Lembrei-me então de que, na terceira conjunção dos mistérios órficos, TAPOR era o nome secreto do deus estilhaçado, pronunciado apenas pela boca da mais jovem das sacerdotisas. (.......................)
Em Nova Delhi, num Setembro feito de nevoeiro e de remorsos, quis vislumbrar a esguia silhueta de Automotora. Garantiram-me nesse ano, em Buenos Aires, que o neto de Pedro Hernandez fora desafiado por Grunfo no coração do Barrio Limpio, depois de uma noite ineteira de jogo e de complacência. A própria Isabel Torrijo (....................)
A simplicidade é a marca maior do labirinto, o inacabado a marca das mãos unicamente humanas. Com as mesmas letras de TAPOR tu dizes TRAPO e TROPA, e com isso o infeliz Humberto Segovia morreu acreditando que encontrara Coimbra, quando afinal só cruzara a insidiosa Toledo. A palavra PARTO evocava desagradáveis reminiscências a Leopoldo Fugavilla, e o chileno desistiu da busca a um passo do que poderia ter sido a nossa glória e a sua maldição. Coube-me a mim, humilde funcionário da Segunda Repartición de Pesos y Medidas da Provincia de Guardanapos, adivinhar a verdade escondida na PORTA férrea. Nos trinta anos seguintes continuei a carimbar os sobrescritos e a copiar diligentemente os relatórios quotidianos de Laura Tyniosa. Pesa-me agora, que vou morrer, não partilhar o segredo dos espelhos. Compreendi o TAPOR, e quem sabe tu poderás (...............)
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