30.4.05

Ata-me



Se eu soubesse
se eu soubesse atar-me à vida
como se ata
quem se mata por amor
avidamente
à vida a mente me atava
nem me matava
nem me matavas de dor



Perdemo-nos, disse ele. Mentem tanto as palavras, não é? Noite fechada, mas são os dias que fecham e é a noite que sabe rasgar. Faltam tantas palavras, não é? Sozinho quer dizer um, mas fomo-nos perdendo até chegar ao zero tão largo. Faltam e mentem, deixa. Não vamos faltar ao encontro marcado (vês? são os desencontros que ficam marcados no fim). Vou contigo agora que tudo está tão dentro, perdemo-nos e só podemos abrir-nos a nós. Vem aqui. Toma. Liberta-me.

Ata-me, disse ela.

[pintura: Ata-me 1, de
Elisabeth Cortella (2000)]