23.4.05

O oiro final



É só quando a morte ronda que o amor se abre à totalidade das coisas, e por isso nunca entendi o amor pelo que apenas vai estando vivo. Nunca procurei a felicidade, nunca a quis dar. Talvez por isso tenha sempre sido olhado com estranheza pelas pessoas contentes, pelas pessoas diurnas. Talvez por isso tenha andado tão sozinho. Mas quis só - não a encontrei - partilhar a quietude que anuncia a chegada simples do amor, e a chegada tranquila da morte. Idealmente, a chegada de ambos, enlaçados como os amantes eternos que na verdade são. Por isso calar, em mim, tantas vezes não foi mais do que deixar morrer a chama que os dias teimaram em alimentar. Por isso amo aquele que aprendeu, de uma vez por todas, que a vida é insuportável.

Mas hoje vai chegar o tempo do oiro final.

[pintura de Waterhouse. Pré-Rafaelita, claro]

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Lindíssimo o que escreves... (sempre pensei) e ás vezes penso ainda que nunca farei ninguém feliz... queria apenas a calma... a paz... o silêncio de contemplar os dias e as mortes de cada dia com a beleza que tudo encerra... (ás vezes penso se o amor... o amor daqui, será só para tantos outros que não eu... porque eu procuro o céu... e tenho sempre a sensação que não lhe chego...)mas resta sempre a esperança... nem sei bem de quê... de pertencer a tudo sem a nada pertencer...

Lindo... para além das palavras também gosto muito de Waterhouse

26/4/05 12:28  

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