1.5.05

Tantas coisas

Estou de regresso, tantas coisas. Nestes dias não estive cá. Não, não fui de férias, não fui viajar. Mas nestes dias (reparaste?) não era eu que por cá andava. Foram dias estranhos, talvez nove, talvez dez. Andei dez dias calado, e as coisas que o Goldmundo assinou devem ter-se escrito sozinhas, como frases de baton nos espelhos dos maus filmes de terror. Às vezes, são as coisas que nos escrevem a nós.

Ontem e anteontem foram os dias mais estranhos. É verdade que estava cansado. Mas sentia-me sempre como quando não somos capazes de ficar acordados, não somos capazes de nos erguer da mesa escura do álcool. Dava por mim a enfiar o passe de transporte no multibanco, e o cartão do multibanco na ranhura do metro; ontem, ao fim da tarde, pensei que não conseguia atravessar a pé uma rotunda: não conseguia perceber onde era a passadeira, de que lado vinham os carros, como se chegava ao prédio tão alto mesmo do outro lado. Deixei as chaves em casa e fiquei fechado cá fora, saí de cafés sem pagar, esqueci-me de me desviar de um senhor cego que vinha ao meu encontro, tão absorvido que fiquei com a sua bengala branca. Aconteceu-me acordar a tremer, e tive sonhos difíceis que já não recordo bem. E hoje acordei como se me preparasse para regressar.

Tenho tantas coisas para dizer. E algumas eram coisas em resposta aos que me deixaram aqui as suas coisas. Mas os viajantes já sabem que na Ribeira nem sempre há alguém para os saudar.

Leio os últimos posts como se tivesse chegado agora. Leio-os como se fossem fantasmas de uma casa velha. E acho que é isso mesmo que são.

P.S. Um comentário especial para os que me falaram no "esta noite envelheci" de há uns dias atrás: eu não envelheço quando por mim o tempo passa, e sabe Deus que já passou tanto. Envelheço quando sobre mim passa a morte, com as suas asas abertas.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

eu não digo refaço o que não faço e digo o que não quero. e todos os dias vejo o que sou capaz. não sou estranha apenas quero ser eu no local onde nasci e onde passe deixar uma grande fogueira. Até sempre amigos.

19/1/07 20:01  

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