Um sonho, ontem.
Tinha escrito um texto para a Ribeira, e era uma coisa importante. Tinha-o escrito mas não sabia o que lá estava, e por isso tentava lê-lo com atenção. Mas só me ficou a primeira frase inquietante: Não sou, quase, um lobisomem...
Não sou, quase, um lobisomem. Talvez o sonho tenha razão. Não sou, quase, coisa nenhuma. Não sou, quase, uma coisa qualquer. Não sou, quase, eu. E o mundo não é, quase, parte de mim. As coisas estão por um fio, e por isso me fio nelas para viver. Po isso quase sonho, quase me detenho nesta quase-ribeira quase-negra que é quase diferente de mim.
Às vezes estou quase a sorrir.
Nota: a língua portuguesa é estranha, se a olharmos com atenção. A palavra quase marca uma fronteira subtil entre o ter e o ser, e essa fronteira está no uso da forma negativa: dizemos o carro quase não tem gasolina, mas não dizemos o copo quase tem água. E no entanto é vulgar dizermos sou quase adulto, e é raro dizermos não sou quase uma coisa qualquer.
Estou quase a não descobrir o que isto quer dizer.
8 Comments:
depois conta - me. ao ouvido.
Não somos quase nada em tanta coisa que fazemos, no entanto somos quase tudo em cada coisa que nos faz.
imagino este insuportável "quase" como um vidro finíssimo que nos separa de tudo o que queremos tocar...
É isso mesmo, ebola. aquilária. é isso mesmo.
porque é que alguns seres não existem na forma de mulheres? mesmo que fossem quase...
"mulher" já inclui por definição o "lobi"
"e quando ambos se encontram, um é o outro de tal modo, que ele todo de súbito se estranha"
cito-me aqui a mim própria, numa história que um amigo me pediu, sobre um lobisomem; e eu escrevi uma história circular, toda feita de suposiçoes, sobre uma mulher de vida aparentemente tranquila, mas que em noites de lua cheia...
nao era propriamente uma história de lobisomens, mas falava de como há momentos em que QUASE nos transformamos no outro. e de como isso pode ser assustador.
um abraço, goldmundo, e desculpa o texto que vai longo.
hmmmm. fascinante. deixa ver se...
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