10.9.05

Chanson de la plus haute tour

Oisive jeunesse
A tout asservie,
Par délicatesse
J'ai perdu ma vie.
Ah ! Que le temps vienne
Où les coeurs s'éprennent.

Arthur RIMBAUD, Derniers vers
(composto em 1872)

Gostar de alguém foi sempre em mim porta aberta para o silêncio. Raras vezes falei; mais raros foram, ainda, os gestos feitos. Como se não tivesse o direito de ter, como se não soubesse entrar na beleza que ia encontrando. O mundo dava-me razão: por mais de uma vez foi como se chegasse um dia depois, un jour trop tard. Eu ando tão devagar. E um dia depois será sempre tarde demais.

Gostar de alguém foi sempre em mim janela a bater ao vento. Aprendi, conversando com amigos e lendo os livros que me abraçaram, que os tempos de amor podem ser um tempo de força e de alma; mas em mim gostar foi quase sempre o romper de diques grandes, sentir demais até que o vento se fosse embora. Ah, e proteger a amada do vento norte tão frio.

Gostar de alguém foi sempre em mim conversa tida sozinho. Nunca soube gritar. Encontrar alguém foi saber desde sempre o fim da história, e com isso não chegar a começá-la sequer. Não poderia dar-te a minha sombra.

Sim. Gostar de alguém foi sempre em mim canção da torre mais alta. Só uma deusa menina me poderia ferir. Só a flecha de Diana-a-taciturna. Mas os homens não sabem já de deusas que os amem.

Ah... que le temps vienne où les coeurs s'éprennent!

8 Comments:

Blogger aquilária said...

Cesariny diz:
ama, como a estrada começa

10/9/05 09:00  
Anonymous Anónimo said...

Gostar é dor, é medo, é sangue, sal e calor.
Gostar é um desejo, uma caricia, gostar é fé, é entrega.
Gostar, gostar, simplesmente gostar, é impossível.

Eu vejo os fins.
Não posso gostar, ou, pelo menos, não me posso entregar a esse gostar, porque tudo passa, tudo é efémero, em muito menos que uma vida.

O tempo, a idade, a própria vida, fazem com que as coisas se esbatam, se desvaneçam, até que finalmente não sejam mais que traços, que memórias distorcidas de sonhos passados.

O vento passa e trás cheiros, aromas exóticos, augúrios de lugares distantes, de novas portas, de outros seres...

O vento entra e a velha cortina branca, feita de fiapos de algodão, esvoaça ao vento.
O vento passa e a janela não bate, porque também o tempo passou, e demasiadas vezes a fechou.
O vento sopra e trás fantasmas, para assombrar uma casa vazia e poeirenta, que, em mim, recuso amar.
O vento entra e há silencio, nu em lágrimas mudas e molhadas, que mão alguma virá secar.

Como o toque.
Como os olhares.
Como um bar vazio, como uma rua deserta.
Como a solidão.
Como as palavras.
Como as palavras, deles, minhas, nossas, mas nunca ditas, de ninguém...

Gostar é um desejo, uma ilusão, uma doce mentira.
Eu amo.
Mas não sei amar.
Não sei falar, chorar, sorrir, beijar.
Não sei tocar.
Como eu gostava de saber amar...

Como eu podia ser mais feliz se soubesse, ao menos, amar...

11/9/05 02:45  
Anonymous Anónimo said...

tens que silenciar esse silêncio de gostar de alguém... e às vezes esse silêncio silenciado só vem depois de palavras...poucas...

penso que isto tem a ver com o "discernimento", a barreira entre nós e o que nunca será nosso...

...e... tem também a ver com aquilo que te disse uns posts atrás "tentar o tentar"...

...um dia falarei sobre isto...

12/9/05 13:35  
Anonymous Anónimo said...

Ah!... e quem disse que as mulheres temem o vento frio?!

13/9/05 16:39  
Blogger Luz Dourada said...

Gostar antes de tudo é simplesmente gostar, de tudo, do cheiro, do toque, do corpo da alma e amar é um caminho...e quem não se perde, às vezes nas veredas? E por isso não se faz o caminho?
Amar é arriscar....sempre...

14/9/05 23:09  
Blogger Goldmundo said...

Eu não disse a palavra "amar". Não sei se foi por me não lembrar dela, se foi por tê-la demais perto de mim. Não, não disse a palavra. Sim, dor e medo, sanue, sal calor.

Simplesmente gostar é impossível, diz a Aynn. As coisas esbatem-se e desvanecem-se. Um prefácio à Ribeira Negra. As coisas esbatem-se e nós ficamos presos às sombras que o azul e o vermelho dançaram na estrada apenas começada.

Só o silêncio se não esbate nunca. Só silêncio toca como se fôssemos nós a cor esbatida.

16/9/05 01:37  
Anonymous Anónimo said...

Sim, penso que no silêncio podemos encontrar tudo o que procuramos mesmo sem saber!

16/9/05 12:51  
Anonymous Anónimo said...

As tuas palavras são tão lindas...
São daquelas que ecoam no silencio, denunciando-o. São daquelas que nos deixam vazios quando se desvanecem, sós, esbatidos na imensidão...

Eu acho que no silencio podemos perder tudo o que procurámos, tudo o que nele encontrámos, sem darmos conta.

Gostei muito de ler o teu blog. Acho que, na subjectividade do que dizes, te entendo...

17/9/05 01:09  

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