6.9.05

Estrela-de-cores

I.



Nasceu a Ribeira como dissonância, e dessa sina nunca a soube eu libertar. Devagarinho escrevo aqui, quase calado vou gritando. Notas à margem de notas, folha pequena tão dobrada. Volto sempre ao lugar das coisas que já disse atrás. Volto sempre a escrever pedaços da mesma história. Como se tudo, a vida toda, fosse em mim caleidoscópio a girar, como se não fosse eu senão coisa a ver de longe e coisa de os outros descobrirem coisas novas nas coisas tantas que fazem. Brincadeirinha dos vidros, travessurinha das cores, na minha mão vos seguro mas sois vós que me andais fazendo. E às vezes o circo é triste, dissonância.

Ribeira. Como dissonância nasceu, dissonante é tudo o que cá dentro roda. A minha estrela-de-cores não tem espelhos que a façam. O meu canudo de cartão tem frestas por onde foge o sol. Não sei pôr a vida toda lá dentro, não sabe a vida pôr-me a mim todo lá fora. Brinco com palavras soltas porque tudo o resto me anda preso. E fogo-preso é o nome do meu estranho amor.

II.

Tudo em mim são certezas, mesmo a certeza de duvidar de mim. Nunca tentei tentar, talvez com medo de acabar tentado. As cores, sei-as de cor. Mesmo as da estrela-de-cores que sou, que nunca guiou mago nenhum.

Entre mim e o mundo há mais palavras do que as que alguma vez podia contar. E começando a contá-las acabo por ter uma história contada, e essas são as que menos contam. Olho para o meu gato e é a palavra gatinho que pula para o meu colo tão frio. Olho para uma mulher e ela transforma-se numa frase como se uma deusa tivesse ciúmes da beleza de existir. A dor é em mim um narrador: "estou cansado, pensou ele baixinho. quase como se não pensasse nada".

III.


Fiz tantas estrelas-de-cores que não sei já qual é o verdadeiro vidrinho, quais são as imagens dele tão puras. Já pensei em partir espelhos, mas tenho medo que o mundo parta também e me deixe aqui. Tenho medo de desmorrer.

Não há uma palavra que queira dizer rasgar, e que queira dizer doçura. Não há palavra para indescrever, nem cor que seja o silêncio delas. Ribeira. Quando te calas és igual a mim. Tudo o que tenho é amor chovido. Sou um vidrinho verde que um dia quis ser verdade.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Tens mesmo que tentar tentar Gold.!!!

e... penso que ter medo de desmorrer é já em si desmorrer... é não tentar as cores, nem sequer o preto ou as suas variantes!

Abraço

6/9/05 12:43  
Blogger Luz Dourada said...

Olá! Gostei de ver o teu blog cheio de cores...
Bjito,

12/9/05 22:24  

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