E em aditamento ao anterior:
Sou, sempre fui, a multiplicidade, a dispersão, a fragmentação. Gémeos ascendente, não é? Talvez. Um que são dois que depressa se fazem quatro... ("Contradigo-me? Muito bem, entãom contradigo-me; sou grande, contenho multidões", gritava o Walt Whitman... mas não, eu não sou grande. As minhas multidões transbordam-me)
Ao longe, tão longe, o Único. A divindade. Às vezes tenho pena de não ser muçulmano. Talvez o deserto de Allah me unificasse. Mas como tudo na minha vida, o Um está longe demais.
Um. Tudo o resto no mundo são coisas pequenas, dispersas sombras. E sombras e coisas trago-as dentro de mim que baste. Tudo o resto no mundo não é mais do que mais de mim.
Nunca entendi a ligação cristã entre o amor e a luxúria, essa forma inferior de gula. E lembro-me, sim. Lembro-me da primeira paixão que tive (Uma vez vi os joelhos dela, de outra descalçou-se por momentos no fim de um passeio junto à praia, sacudiu a areia das sandálias), lembro-me da primeira vez o abismo, lembro-me da última vez. É raro tocar, coube-me quase sempre o amor de longe. Mas reservo a gula para a mousse de manga e para as incontáveis cerejas. Tocar e ser tocado: mistério da unidade do Outro, que por momentos me faria inteiro.
Talvez por isso deus me imponha a distância.
13 Comments:
Penso que não é Deus, mas sim tu que exiges essa distância, vai por mim, nada melhor que tocar e ser tocado, mas sempre com e por amor...e não tem nada a ver com luxuria, e não é absolutamente obrigatório esse tocar, mas quando acontece...
Clara das mãos esguias
A Clara tem razão.
O que há depois da fé?
http://www.local-imperfeito.blogspot.com/
O Habitante do Local Imperfeito
...
"... mas deus não dá licença que partamos."
(Pessoa)
...
Goldmundo,
Deus nao da licença para que façamos muitas coisas... mas mesmo assim eu as faço...
...
Goldmundo,
apos postar esse comentario ae acima eu me dei conta de uma coisa...
please, nao va entrar em umas de levar a mal e mandar benzer os meus tumulos, como voce ameaçou fazer com o tadinho do Klatuu, pois eu sou um Devil do bem (oras, se existe fantasminha camarada, porque nao pode existir um Devil que esteja do lado dos Angels?...;o).
brincadeirinha...
;o)
eu curti o teu Blog para caramba... hoje eu vou terminar um lance no qual estou trabalhando e amanha vou tirar um tempo para começar a ler todos os teus posts anteriores...
[]s
força sempre!!!
ate +++
RedDevil
Este teu post deixa-me água na boca..., a querer mais.
Começo pela frase "luxúria, essa forma inferior de gula", que gostei e gostava que elaborasses. a Luxúria passa pela gula?, confundem-se? não há uma sem a outra? fem, fem, olha lá...!
Depois passas pelo Amor de Longe ou ao longe, isto é uma referência ao livro-opereta do Amin Maalouf, ou nem sequer estavas por aí a pensar. Julgo sim até porque a temática do teu post é semelhante. Apita.
Caro Goldmundo.
Que essa distância seja de verdade e autenticidade, e nesse caso ela é proximidade interpelante, interrogativa e "buscadora".
O "donjuanismo" - e há "donjuanismos" religiosos - corresponde sempre à distância maior, à máxima ausência, até ou sobretudo porque se apresenta como "possuidor".
Por outro lado e aqui no tempo e na terra, não se é inteiro duma vezada como que por magia. A tarefa também é do próprio, e a cada fase ou degrau a sua "inteireza".
Sei lá.
Tocam-me muito estas e outras partilhas íntimas mais do que íntimas (da alma) que por azqui vais fazendo.
Um grande abraço.
Pois... é bom rever-vos por aqui, Derviche, Vítor, Reddevil, jac.
Do Amin Maalouf (eu escrevi "Maloouf", mas fui ver a tempo...)recordo uma história de mouros, nada mais. Fica prometida uma coisa tapórica (pórquica?) sobre a gula. Para depois das Estações, ou lá como se chama agora o Natal.
Vítor, às vezes confundes-me. A ribeira é o único sítio onde eu às vezes digo, com verdade, que não sou verdadeiro. E a distância tem muitas formas. E devil, a casa é tua.
É bom rever-vos.
Huummm... tb ñ me parece q Deus tenha a ver com o assunto... Coisinhas do mundo...:)
KLATUU
Devias era ler «As Cruzadas Vistas Pelos Árabes»... se ñ leste ainda... Dp podemos falar sobre o livro...:)=
Maalouf tem duas Obras-Primas que deviam encantar um gajo de mistérios e de jogos de luz e sombras, como tu ó Goldmundo. Falo do "Leão, O Africano" e do "Samarcanda". O "As Cruzadas vistas pelos Árabes", também é bom, assim como o "Identidades Assassinas". Bonzitos são "O Rochedo de Tânios", o "Escalas do Levante", e "O Périplo de Baldassare". Mauzinhos, os "A Idade de Beatriz" ou qualquer coisa de Beatriz, O Amor de Longe (livreto de Ópera). O "origens" com a hi´stória da família e auto biografia parcial não é mau lê-se bem. Afinfa no MAalouf que vale a pena.
Alô, alô, confuseira e distanceira!
Pois é, Goldmundo, mas relativamente à verdade da expressão de alma, então pergunta-se em paráfrase o que é mais verdadeiro: a biografia do poeta, ou o seu fingimento lírico em personagens. Qual deles, por exemplo, entre Cervantes e D. Quixote é mais intimamente verdadeiro no leitor?... A verdade dum poema reside muitas vezes na revelação do leitor ao próprio leitor através das sugestões e estímulos da leitura – essa máquina lírica e conceptual.
Algumas máscaras desnudam o mascarado e quem o olha. O encontro não é directo, mas potencia verdade (retirada de véus, que se sucedem como as cascas da cebola).
Sei lá 2.
Quanto à confusão, ora, ora, ela é pedra que fulgura na maculada máscara que me orienta na bloguice, em expressão e interrogação das contradições e ambiguidades dos meus pensentimentos e existência num horizonte cristão.
Sei lá 3.
E claro que a distância tem muitas formas; e por inerência dialéctica, também a proximidade.
Sei lá 4, e outro grande abraço. É sempre bom vir à Ribeira Negra.
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