9.12.05

E em aditamento ao anterior:

Sou, sempre fui, a multiplicidade, a dispersão, a fragmentação. Gémeos ascendente, não é? Talvez. Um que são dois que depressa se fazem quatro... ("Contradigo-me? Muito bem, entãom contradigo-me; sou grande, contenho multidões", gritava o Walt Whitman... mas não, eu não sou grande. As minhas multidões transbordam-me)

Ao longe, tão longe, o Único. A divindade. Às vezes tenho pena de não ser muçulmano. Talvez o deserto de Allah me unificasse. Mas como tudo na minha vida, o Um está longe demais.

Um. Tudo o resto no mundo são coisas pequenas, dispersas sombras. E sombras e coisas trago-as dentro de mim que baste. Tudo o resto no mundo não é mais do que mais de mim.

Nunca entendi a ligação cristã entre o amor e a luxúria, essa forma inferior de gula. E lembro-me, sim. Lembro-me da primeira paixão que tive (Uma vez vi os joelhos dela, de outra descalçou-se por momentos no fim de um passeio junto à praia, sacudiu a areia das sandálias), lembro-me da primeira vez o abismo, lembro-me da última vez. É raro tocar, coube-me quase sempre o amor de longe. Mas reservo a gula para a mousse de manga e para as incontáveis cerejas. Tocar e ser tocado: mistério da unidade do Outro, que por momentos me faria inteiro.

Talvez por isso deus me imponha a distância.

13 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Penso que não é Deus, mas sim tu que exiges essa distância, vai por mim, nada melhor que tocar e ser tocado, mas sempre com e por amor...e não tem nada a ver com luxuria, e não é absolutamente obrigatório esse tocar, mas quando acontece...

Clara das mãos esguias

9/12/05 10:41  
Blogger Silvia said...

A Clara tem razão.

9/12/05 22:52  
Blogger João Dias de Carvalho said...

O que há depois da fé?

http://www.local-imperfeito.blogspot.com/

O Habitante do Local Imperfeito

10/12/05 00:41  
Blogger Goldmundo said...

...

"... mas deus não dá licença que partamos."

(Pessoa)

10/12/05 16:56  
Blogger RedDevil said...

...

Goldmundo,

Deus nao da licença para que façamos muitas coisas... mas mesmo assim eu as faço...

10/12/05 17:23  
Blogger RedDevil said...

...

Goldmundo,

apos postar esse comentario ae acima eu me dei conta de uma coisa...

please, nao va entrar em umas de levar a mal e mandar benzer os meus tumulos, como voce ameaçou fazer com o tadinho do Klatuu, pois eu sou um Devil do bem (oras, se existe fantasminha camarada, porque nao pode existir um Devil que esteja do lado dos Angels?...;o).

brincadeirinha...
;o)

eu curti o teu Blog para caramba... hoje eu vou terminar um lance no qual estou trabalhando e amanha vou tirar um tempo para começar a ler todos os teus posts anteriores...

[]s
força sempre!!!
ate +++

RedDevil

10/12/05 20:05  
Anonymous Anónimo said...

Este teu post deixa-me água na boca..., a querer mais.

Começo pela frase "luxúria, essa forma inferior de gula", que gostei e gostava que elaborasses. a Luxúria passa pela gula?, confundem-se? não há uma sem a outra? fem, fem, olha lá...!

Depois passas pelo Amor de Longe ou ao longe, isto é uma referência ao livro-opereta do Amin Maalouf, ou nem sequer estavas por aí a pensar. Julgo sim até porque a temática do teu post é semelhante. Apita.

13/12/05 09:49  
Blogger Vítor Mácula said...

Caro Goldmundo.

Que essa distância seja de verdade e autenticidade, e nesse caso ela é proximidade interpelante, interrogativa e "buscadora".

O "donjuanismo" - e há "donjuanismos" religiosos - corresponde sempre à distância maior, à máxima ausência, até ou sobretudo porque se apresenta como "possuidor".

Por outro lado e aqui no tempo e na terra, não se é inteiro duma vezada como que por magia. A tarefa também é do próprio, e a cada fase ou degrau a sua "inteireza".

Sei lá.

Tocam-me muito estas e outras partilhas íntimas mais do que íntimas (da alma) que por azqui vais fazendo.

Um grande abraço.

13/12/05 16:06  
Blogger Goldmundo said...

Pois... é bom rever-vos por aqui, Derviche, Vítor, Reddevil, jac.

Do Amin Maalouf (eu escrevi "Maloouf", mas fui ver a tempo...)recordo uma história de mouros, nada mais. Fica prometida uma coisa tapórica (pórquica?) sobre a gula. Para depois das Estações, ou lá como se chama agora o Natal.

Vítor, às vezes confundes-me. A ribeira é o único sítio onde eu às vezes digo, com verdade, que não sou verdadeiro. E a distância tem muitas formas. E devil, a casa é tua.

É bom rever-vos.

13/12/05 21:29  
Blogger Lord of Erewhon said...

Huummm... tb ñ me parece q Deus tenha a ver com o assunto... Coisinhas do mundo...:)

KLATUU

13/12/05 22:05  
Blogger Lord of Erewhon said...

Devias era ler «As Cruzadas Vistas Pelos Árabes»... se ñ leste ainda... Dp podemos falar sobre o livro...:)=

13/12/05 22:11  
Anonymous Anónimo said...

Maalouf tem duas Obras-Primas que deviam encantar um gajo de mistérios e de jogos de luz e sombras, como tu ó Goldmundo. Falo do "Leão, O Africano" e do "Samarcanda". O "As Cruzadas vistas pelos Árabes", também é bom, assim como o "Identidades Assassinas". Bonzitos são "O Rochedo de Tânios", o "Escalas do Levante", e "O Périplo de Baldassare". Mauzinhos, os "A Idade de Beatriz" ou qualquer coisa de Beatriz, O Amor de Longe (livreto de Ópera). O "origens" com a hi´stória da família e auto biografia parcial não é mau lê-se bem. Afinfa no MAalouf que vale a pena.

14/12/05 09:57  
Blogger Vítor Mácula said...

Alô, alô, confuseira e distanceira!

Pois é, Goldmundo, mas relativamente à verdade da expressão de alma, então pergunta-se em paráfrase o que é mais verdadeiro: a biografia do poeta, ou o seu fingimento lírico em personagens. Qual deles, por exemplo, entre Cervantes e D. Quixote é mais intimamente verdadeiro no leitor?... A verdade dum poema reside muitas vezes na revelação do leitor ao próprio leitor através das sugestões e estímulos da leitura – essa máquina lírica e conceptual.

Algumas máscaras desnudam o mascarado e quem o olha. O encontro não é directo, mas potencia verdade (retirada de véus, que se sucedem como as cascas da cebola).

Sei lá 2.

Quanto à confusão, ora, ora, ela é pedra que fulgura na maculada máscara que me orienta na bloguice, em expressão e interrogação das contradições e ambiguidades dos meus pensentimentos e existência num horizonte cristão.

Sei lá 3.

E claro que a distância tem muitas formas; e por inerência dialéctica, também a proximidade.

Sei lá 4, e outro grande abraço. É sempre bom vir à Ribeira Negra.

14/12/05 11:41  

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