6.12.05

A cruz, em tempo de trevas



Tirem os crucifixos das escolas.

Tirem as Chagas de Cristo da bandeira de Portugal (as "quinas").

Tirem da cabeça que estamos num "país católico".

Deixem de transmitir a Missa Católica na televisão. Tirem da frente o senhor com voz embargada de comoção a falar na televisão de Fátima, horas e horas.

Peçam ao Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, e aos Senhores Bispos Reverendíssimos, que deixem de comparecer em cerimónias de Estado.

Deixem de se opor à despenalização do aborto.

Deixem de mendigar subsídios do Estado para a construção de igrejas.

Parem com o supremo escândalo que é a construção da nova Catedral de Lisboa: temos uma catedral que é uma das igrejas mais bonitas do mundo, para quem a sinta, e temos a catedral da Luz, para quem queira ser moderninho.

Tirem das escolas públicas, juntamente com a cruz, os padres professores de "moral" ou lá como se chama esse outro escândalo.

Digam ao Senhor Bispo Capelão-Mor das Forças Armadas que tenha juízo e vá rezar para um sítio tranquilo.

Digam ao povo, em voz bem alta, que na NOSSA opinião, não se justifica que dias santos sejam feriados. O Estado que decida, mas não à nossa custa.

Deixem de pôr, mesmo em véspera de uma consagração, placards caricatos da Santíssima Virgem Maria, em formato gigante, na Praça do Marquês de Pombal em Lisboa, ainda por cima num local onde nas outras alturas há publicidade ao Banco com o nome infeliz de Espírito Santo. A Senhora já é insultada demais.

Deixem de atroar metade do país com horrendos "sinos" electrónicos a berrar de quarto em quarto de hora. Desliguem o horrendo néon das cruzes no cimo das igrejas (como é possível?!).

Recusem-se a ser "cultura".

Mas...

Vivam, os irmãos, como irmãos.

Vivam, os padres, como padres.

Vivam, os Bispos, como sucessores dos Apóstolos.

E isto não será coisa pouca. A fé é a coisa maior deste mundo, a par do amor (caridade, palavra tão estragada). É talvez maior que ele, porque a fé não é mais do que o amor que sabe donde vem. Não combatam o que julgam serem as trevas. Há trevas, sim, e maiores do que aquilo que podemos conceber. Mas esse combate não é nosso.

E olhem para a cruz, quando ela for retirada das escolas. Olhem para a parede nua onde ela esteve. Olhem para a cruz, a coisa do mundo todo onde é maior a diferença entre o ver e o simples olhar.

Olhem, já agora, para o meu Caspar David Friedrich, a cruz na montanha. A Cruz é um acto solitário. E é esse o mistério tremendo da comunhão dos homens.

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Estranhos tempos estes em que é necessário olhar uma cruz para lembrar o maior amor do mundo...
Gold, eu não sou católica, sigo os Antigos, mas admiro o sacrificio de Jesus Cristo e acho que este representa bem a grandeza dos nossos sentimentos, a infinita capacidade que o homem tem para amar, ao perder essa memória caminhamos a passos largos para qualquer coisa muito feia, espero que o ciclo não se feche ainda.

Clara das mãos esguias

6/12/05 13:55  
Blogger Goldmundo said...

Estranhos tempos, sim, Clara, tempos de escurecer. Sabes? Santo Agostinho, há mais de mil e quainhentos anos, dizia que todos os Antigos tinham a Verdadeira Religião. E assim deve ter sido. Mas o olhar PARA a cruz, em encontro (cruzado...) com o olhar DA cruz: desde o princípio que foi aí que nasceu o olhar dos homens sobre si mesmos - Aquele que ali está e me vê é igual a mim, tão diferente...

E mãos esguias foram sempre as mãos levantadas, como as da Senhora da pintura que não sabemos quem seja. Por mim, penso sempre que é aquela a quem os teus Antigos chamavam Pistis Sophia, a sabedoria eterna.

6/12/05 19:45  
Blogger Lord of Erewhon said...

Tu é q ainda chegas a cardeal!:)

7/12/05 02:02  
Blogger Vítor Mácula said...

Caro Goldmundo.

Há muito "tempo" que não lia uma definição da fé tão certeira.

E quanto ao resto... pertinência, pertinência. Às vezes tenho impressão que se confunde a fé e sua propagação, que é "interior exteriorizante", com a presença pública - política, publicitária, institucional... Enfim... Não é que uma anule a outra "necessariamente"... Mas... Enfim 2 ou o mesmo...

Um abraço.

7/12/05 11:47  
Blogger zazie said...

viva Goldmundo! é bom haver quem digas as coisas desta forma simples e verdadeira

Estranho como hoje em dia falar de religião se tornou uma luta contra a ignorância. Más é assim, os jacobinos trataram da propagar

8/12/05 00:16  
Blogger Sonia Almeida said...

o teu texto tocou-me profundamente, a mim, que estou sempre a tentar fugir da minha cruz, e que ainda não percebi que ela existe para me salvar.
beijinhos

8/12/05 14:11  
Anonymous Anónimo said...

Continuo sem perceber porquê tanta polémica em redor da remoção dos crucifixos nas escolas... A fé é de cada um; cada um a sente, cada um a vive, e cada um sabe em que acredita. Em minha opinião, não é por haver cruzes nas escolas que quem tem fé a vai ver aumentar, ou que quem não a tem a irá passar a ter...

8/12/05 23:42  
Blogger Silvia said...

trata-se de uma questão, como deste a entender, pessoal. Trata-se de sentir. Há quem o sinta, há quem não o sinta. E por isso a cruz faz mais sentido num espaço do eu e não num espaço do nós-não-sentido, onde nem todos são irmãos do mesmo Pai.

9/12/05 11:16  

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