Uma coisa posta
Anda em mim a alegria, como a onda agitada sobre os abismos do mar: coisa posta sobre uma coisa imposta, rasto deixado no céu pelo voo da garça real. Sou feito de não fazer.
Anda em mim a canção, como o musgo sobre a terra tão fria: coisa guardada sobre uma coisa aguardada, laço pequeno que me prende aos dias mais breves. Sou feito de desfazer.
Anda em mim a viagem, como se a minha casa de pedra soubesse para onde há-de ir. Sentado à sombra do céu olho os homens, estrelas de tão pouca luz. O tempo é sempre o templo que eu sou.
[pintura de Carl-Gustav Carus (1789-1869]
27 Comments:
E por que não cantar! E sonhar com um mundo melhor...
Bom Ano Novo com muito amor e paz sobretudo para os pequenos do mundo.
Porque não cantar e sonhar com um mundo melhor e desejar bom ano novo? Porque o Carnaval ainda está longe. É mesmo por isso.
Oh Gold. se soubesses o que o teu "não fazer" tem feito!!!
Se soubesses o que o teu "desfazer" faz por aí...
Por isso a alegria e a canção de nunca saber o que se faz ou desfaz...
Está tudo a Ser feito por aí em segredo... e o segredo é a mais bonita canção que se houve no templo que somos...
um beijinho e um abracinho quente (como o Natal, como o sol que se sente nestes dias)
Aos dois primeiros comentadores, ou ao primeiro comentador e ao postador: ih ih ih ih!...
Aos três e possíveis restantes: um abraço.
Acrescento que, se as palavras de Sophia não fossem tão brilhantes e particulares, faria-las minhas para devolvê-las segunda vez ao Goldmundo. O que acabei evidentemente fazendo não fazendo, perdoa-me lá Sophia, mas é bom pressentir pensentimentos semelhantes aos nossos e tão belamente expressos.
E, sendo assim, mando mais um abraço para a Sophia.
Obrigada Vitor!!
Um abraço muito sentido para ti também!
bom quadro que não conhecia, como não conhecia o pintor. bom jogo de luz e de simbolos.
O barroco na música, o romantismo na pintura. Quando chegará o tempo das palavras verdadeiras?
Ou todas as palavras sao falsas ou todas sao verdadeiras... Sistemas sobre sistemas, senhor Goldmund.
Vamos lá brincar com as palavras outra vez. Porque quanto mais não seja, ao menos isso é divertido. :) Toma o que te digo como a geada do roseiral.
porque duvidas das palavras Gold.?
Menina. Hum. Sistemas sobre sistemas? Evil Angel. Fico contente em te rever~. Geada de Inverno, hem? É justo :)
Proximo post sobre o que disseram, e também por causa do que disseram o Vitor Macula e a Aquilária mais atrás.
O senhor provavelmente nao se lembra da história do Espartano, lembra?
goldmundo, desculpa mas tenho que segredar aqui uma coisa à sm:
sabes, só no início do ano é que eu me decidi a aprender a fazer links.até lá, no meu post dos presentes de natal eu referia apenas os nomes.não te penitencies, é sempre boa altura para desembarcar nesta ribeira.
abraços, a todos.
menina:
você pode me indicar uma página web na qual eu possa conhecer a história do Espartano?
grato
Morning Star
Conta-nos a história, Menina.
Aqui a pequena anedota do espartano, a origem de todos os paradoxos:
"Um espartano diz verdade sobre os habitantes da cidadezinha lacônica: Todos os espartanos mentem".
Estará ele dizendo a verdade ou mentindo?
Desculpem ,nao sei contar histórias como o senhor Goldmund..
Esse é um paradoxo de Epimenedes. No original trata-se de um senhor com cidade Natal em Kreta.
Portanto no original: "Um senhor de Kreta diz: Todos os kretanos mentem"
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O famoso paradoxo de Epimenedes, não passa de uma falácia! Tal afirmação nunca poderia partir de um espartano! A «sabedoria labiríntica» nada lhes dizia... viviam como morriam... com simplicidade! Por isso o jovem Rei, Leónidas, deteve os persas nas Termópilas... enquanto os atenienses ainda debatiam o que deveriam os gregos fazer!
http://www.portalmundos.com/mundohistoria/batallas/termopilas.htm
Nao é uma falácia senhor Klatuu, é na verdade um pardoxo que nao o é. Mais tarde a tradicao escolástica escreve que nao se trata exatamente de um paradoxo se nao forem dadas certas proposicoes que nao estao implicitas na história. E o senhor tem razao nao se trata de um espartano, mas sim de um senhor de creta no original, como havia dito no comentário anterior.
...e no entanto, Menina, a questão que fica é entender o que é "verdade".
"Correspondência com os factos", li em Popper, e assim verdade pode ser dita de coisas pequenas: "o gato dorme no tapete".
E por isso de uma música não se poderia dizer que fosse verdadeira, da Vitória de Samotrácia se não poderia dizer que é a estátua e imagem da verdadeira mulher.
Qual é a palavra, então, para "túnel aberto da existência para o ser"?
E não sei mais filosofia do que isto... :(
Caros.
Bem, pois, a verdade... Só assim é algo de formal, que corresponde à adequação entre planos.
O dum enunciado e dum facto, como mostrou o Goldmundo.
O duma promessa e da sua realização.
O do pensamento e da acção.
O do pensamento, do sentimento e da acção.
O dum triângulo com as suas regras geométricas.
O dum actor com o personagem.
etc etc etc
Quanto ao túnel aberto da existência para o ser... cala-te boca.
Ai, a filosofia... Bem, volte-se ao cachalote, e aconselha-se a leitura do capítulo "A cabeça de Platão" - ou algo do género, não tenho aqui o livro à mão - do "Moby Dick" do imenso Melville.
Se não for de todo esse o título do capítulo, porreiro, leia-se o livro todo que tal conteúdo e infindos outros se encontram lá como pérolas de água no deserto.
Abraços.
A verdade a que chegam os místicos não é uma correspondência. E por isso a pintura e a musica nos falam mais dela (da verdade) do que a escrita. As palavras trazem consigo o peso da razão, a menos que sejam palavras da mais alta poesia. E a razão é a serpente da alma: tenta-nos com a esperança das asas, mas está condenada a rastejar.
Hoje li umas palavras a que tenho que voltar: "quando eu nao for o poeta mas a Amada". E, em atenção ao Vitor e para isto - por hoje - não ser demasiado herético: diante dos anjos, todos somos femininos. Foi o C.S. Lewis que disse esta coisa espantosa. Sim, somos a amada ou o nada.
PS. Estou com vontade de escrever sobre o Moby Dickens :P
PPS. Isto passa :)
Caro Goldmundo.
Sim, e não. Eu chamar-lhe-ia um correspondência infinitamente discordante, porque a verdade de si se mostra no arroubo místico, a personalidade do místico ou mística é anulada e afirmada simultaneamente… Quero dizer, aqui prefiro até calar-me, ou pelo menos por ora, não é só a razão que está condenada a rastejar mas, perante certas “coisas“ todas as nossas possibilidades – ou pelo menos a prostrarem-se…
Correspondência quase infinitamente concordante com o que dizes da pintura e da música e da alta poesia e, como acima indicado, da razão ;)
E sim, não tenho a certeza se diante dos anjos ou não, mas diante de Deus, todos somos padecentes. Faço notar que a categorização da passividade enquanto feminina põe os seus problemas… Mas que somos o/a amado/a ou nada, podes crer! (Quero dizer, para quem é crente, evidentemente :)
E, caramba, não sei se quero que te passe esse impulso de postar algo acerca do Moby Dickens! Já estou a ver o Twist sintetizado com o capitão Ahab! (Estou ;), evidentemente, o post seja o que for ou não…)
Abraço.
Pois, queria dizer... é que anjos há muitos... sei lá... não depende da fonte da mensagem... não se pode resistir a certos padecimentos?... quero dizer, com o apoio, a ajuda, o sustento de... pois...
Desculpe senhor Goldmund.
Nao falarei mais de correspondencias. Geralmente é assim que costumam falar da verdade. Hesitei dizer isso, mas lá vai: nao acredito na verdade, pra mim ela nao há... Nao estou pra escrever tratados sobre isso.
Eu nao sei contar histórias: filósofos sao poetas frustrados, li ontem...
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