7.1.06

Uma coisa posta



Anda em mim a alegria, como a onda agitada sobre os abismos do mar: coisa posta sobre uma coisa imposta, rasto deixado no céu pelo voo da garça real. Sou feito de não fazer.

Anda em mim a canção, como o musgo sobre a terra tão fria: coisa guardada sobre uma coisa aguardada, laço pequeno que me prende aos dias mais breves. Sou feito de desfazer.

Anda em mim a viagem, como se a minha casa de pedra soubesse para onde há-de ir. Sentado à sombra do céu olho os homens, estrelas de tão pouca luz. O tempo é sempre o templo que eu sou.

[pintura de Carl-Gustav Carus (1789-1869]

27 Comments:

Blogger Ver para crer said...

E por que não cantar! E sonhar com um mundo melhor...
Bom Ano Novo com muito amor e paz sobretudo para os pequenos do mundo.

7/1/06 16:13  
Blogger Goldmundo said...

Porque não cantar e sonhar com um mundo melhor e desejar bom ano novo? Porque o Carnaval ainda está longe. É mesmo por isso.

7/1/06 17:17  
Anonymous Anónimo said...

Oh Gold. se soubesses o que o teu "não fazer" tem feito!!!

Se soubesses o que o teu "desfazer" faz por aí...

Por isso a alegria e a canção de nunca saber o que se faz ou desfaz...

Está tudo a Ser feito por aí em segredo... e o segredo é a mais bonita canção que se houve no templo que somos...

um beijinho e um abracinho quente (como o Natal, como o sol que se sente nestes dias)

9/1/06 14:02  
Blogger Vítor Mácula said...

Aos dois primeiros comentadores, ou ao primeiro comentador e ao postador: ih ih ih ih!...

Aos três e possíveis restantes: um abraço.

Acrescento que, se as palavras de Sophia não fossem tão brilhantes e particulares, faria-las minhas para devolvê-las segunda vez ao Goldmundo. O que acabei evidentemente fazendo não fazendo, perdoa-me lá Sophia, mas é bom pressentir pensentimentos semelhantes aos nossos e tão belamente expressos.

E, sendo assim, mando mais um abraço para a Sophia.

9/1/06 17:25  
Anonymous Anónimo said...

Obrigada Vitor!!

Um abraço muito sentido para ti também!

9/1/06 18:36  
Anonymous Anónimo said...

bom quadro que não conhecia, como não conhecia o pintor. bom jogo de luz e de simbolos.

10/1/06 18:49  
Blogger Goldmundo said...

O barroco na música, o romantismo na pintura. Quando chegará o tempo das palavras verdadeiras?

10/1/06 21:01  
Blogger Edo said...

Ou todas as palavras sao falsas ou todas sao verdadeiras... Sistemas sobre sistemas, senhor Goldmund.

10/1/06 21:47  
Blogger Evil Angel said...

Vamos lá brincar com as palavras outra vez. Porque quanto mais não seja, ao menos isso é divertido. :) Toma o que te digo como a geada do roseiral.

11/1/06 12:19  
Anonymous Anónimo said...

porque duvidas das palavras Gold.?

11/1/06 14:43  
Blogger Goldmundo said...

Menina. Hum. Sistemas sobre sistemas? Evil Angel. Fico contente em te rever~. Geada de Inverno, hem? É justo :)

Proximo post sobre o que disseram, e também por causa do que disseram o Vitor Macula e a Aquilária mais atrás.

11/1/06 22:18  
Blogger Edo said...

O senhor provavelmente nao se lembra da história do Espartano, lembra?

11/1/06 22:38  
Blogger aquilária said...

goldmundo, desculpa mas tenho que segredar aqui uma coisa à sm:
sabes, só no início do ano é que eu me decidi a aprender a fazer links.até lá, no meu post dos presentes de natal eu referia apenas os nomes.não te penitencies, é sempre boa altura para desembarcar nesta ribeira.
abraços, a todos.

12/1/06 12:01  
Anonymous Anónimo said...

menina:

você pode me indicar uma página web na qual eu possa conhecer a história do Espartano?

grato

Morning Star

14/1/06 13:21  
Blogger Goldmundo said...

Conta-nos a história, Menina.

14/1/06 21:22  
Blogger Edo said...

Aqui a pequena anedota do espartano, a origem de todos os paradoxos:
"Um espartano diz verdade sobre os habitantes da cidadezinha lacônica: Todos os espartanos mentem".

Estará ele dizendo a verdade ou mentindo?

Desculpem ,nao sei contar histórias como o senhor Goldmund..

15/1/06 09:05  
Blogger Edo said...

Esse é um paradoxo de Epimenedes. No original trata-se de um senhor com cidade Natal em Kreta.
Portanto no original: "Um senhor de Kreta diz: Todos os kretanos mentem"

15/1/06 09:13  
Blogger Edo said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

15/1/06 09:14  
Blogger Lord of Erewhon said...

O famoso paradoxo de Epimenedes, não passa de uma falácia! Tal afirmação nunca poderia partir de um espartano! A «sabedoria labiríntica» nada lhes dizia... viviam como morriam... com simplicidade! Por isso o jovem Rei, Leónidas, deteve os persas nas Termópilas... enquanto os atenienses ainda debatiam o que deveriam os gregos fazer!

http://www.portalmundos.com/mundohistoria/batallas/termopilas.htm

17/1/06 16:50  
Blogger Edo said...

Nao é uma falácia senhor Klatuu, é na verdade um pardoxo que nao o é. Mais tarde a tradicao escolástica escreve que nao se trata exatamente de um paradoxo se nao forem dadas certas proposicoes que nao estao implicitas na história. E o senhor tem razao nao se trata de um espartano, mas sim de um senhor de creta no original, como havia dito no comentário anterior.

18/1/06 07:33  
Blogger Goldmundo said...

...e no entanto, Menina, a questão que fica é entender o que é "verdade".

"Correspondência com os factos", li em Popper, e assim verdade pode ser dita de coisas pequenas: "o gato dorme no tapete".

E por isso de uma música não se poderia dizer que fosse verdadeira, da Vitória de Samotrácia se não poderia dizer que é a estátua e imagem da verdadeira mulher.

Qual é a palavra, então, para "túnel aberto da existência para o ser"?

E não sei mais filosofia do que isto... :(

18/1/06 15:27  
Blogger Vítor Mácula said...

Caros.

Bem, pois, a verdade... Só assim é algo de formal, que corresponde à adequação entre planos.

O dum enunciado e dum facto, como mostrou o Goldmundo.
O duma promessa e da sua realização.
O do pensamento e da acção.
O do pensamento, do sentimento e da acção.
O dum triângulo com as suas regras geométricas.
O dum actor com o personagem.
etc etc etc

Quanto ao túnel aberto da existência para o ser... cala-te boca.

Ai, a filosofia... Bem, volte-se ao cachalote, e aconselha-se a leitura do capítulo "A cabeça de Platão" - ou algo do género, não tenho aqui o livro à mão - do "Moby Dick" do imenso Melville.
Se não for de todo esse o título do capítulo, porreiro, leia-se o livro todo que tal conteúdo e infindos outros se encontram lá como pérolas de água no deserto.

Abraços.

19/1/06 14:13  
Blogger Goldmundo said...

A verdade a que chegam os místicos não é uma correspondência. E por isso a pintura e a musica nos falam mais dela (da verdade) do que a escrita. As palavras trazem consigo o peso da razão, a menos que sejam palavras da mais alta poesia. E a razão é a serpente da alma: tenta-nos com a esperança das asas, mas está condenada a rastejar.

Hoje li umas palavras a que tenho que voltar: "quando eu nao for o poeta mas a Amada". E, em atenção ao Vitor e para isto - por hoje - não ser demasiado herético: diante dos anjos, todos somos femininos. Foi o C.S. Lewis que disse esta coisa espantosa. Sim, somos a amada ou o nada.

PS. Estou com vontade de escrever sobre o Moby Dickens :P

PPS. Isto passa :)

19/1/06 20:55  
Blogger Vítor Mácula said...

Caro Goldmundo.

Sim, e não. Eu chamar-lhe-ia um correspondência infinitamente discordante, porque a verdade de si se mostra no arroubo místico, a personalidade do místico ou mística é anulada e afirmada simultaneamente… Quero dizer, aqui prefiro até calar-me, ou pelo menos por ora, não é só a razão que está condenada a rastejar mas, perante certas “coisas“ todas as nossas possibilidades – ou pelo menos a prostrarem-se…

Correspondência quase infinitamente concordante com o que dizes da pintura e da música e da alta poesia e, como acima indicado, da razão ;)

E sim, não tenho a certeza se diante dos anjos ou não, mas diante de Deus, todos somos padecentes. Faço notar que a categorização da passividade enquanto feminina põe os seus problemas… Mas que somos o/a amado/a ou nada, podes crer! (Quero dizer, para quem é crente, evidentemente :)


E, caramba, não sei se quero que te passe esse impulso de postar algo acerca do Moby Dickens! Já estou a ver o Twist sintetizado com o capitão Ahab! (Estou ;), evidentemente, o post seja o que for ou não…)

Abraço.

20/1/06 16:13  
Blogger Vítor Mácula said...

Pois, queria dizer... é que anjos há muitos... sei lá... não depende da fonte da mensagem... não se pode resistir a certos padecimentos?... quero dizer, com o apoio, a ajuda, o sustento de... pois...

20/1/06 16:34  
Blogger Edo said...

Desculpe senhor Goldmund.
Nao falarei mais de correspondencias. Geralmente é assim que costumam falar da verdade. Hesitei dizer isso, mas lá vai: nao acredito na verdade, pra mim ela nao há... Nao estou pra escrever tratados sobre isso.
Eu nao sei contar histórias: filósofos sao poetas frustrados, li ontem...

21/1/06 03:06  
Blogger Edo said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

21/1/06 03:19  

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