25.5.06

Táxi

(rádio ligado, demasiado alto)

o homem - ... sempre vamos mandar a GNR para Timor.

goldmundo - ah.

o homem - gajos não se entendem.

goldmundo - ... pois. Uma coisa má, a guerra.

o homem - como os iraquianos. Rezam lá ao Alá deles e gostam de se matar. Nós preferimos comer e beber.

goldmundo - ...

o homem - e gajas. Eles não devem ter gajas.

goldmundo - ...

o homem - não há nada que valha a vida e a liberdade. Eu já passei uma história. A minha mulher. Ia-lhe dar um tiro, a ela e a ele.

goldmundo - ...

o homem - há cinco anos, agora tenho cinquenta, foi aos quarenta e cinco. Ela andava metida com outro. Foi o vizinho que me disse, há um gajo que vai lá a casa. Fui buscar a pistola, então não eram dois tiros? Está mal feito um homem não poder tirar satisfação.

goldmundo - ...

o homem - ela também estava gorda, um pote, e eu tinha um arranjinho, entende

goldmundo - ... ah, sim sim. entendo. pois.

o homem - então fui buscar a pistola e eram dois tiros naqueles porcos. Mas depois pensei vou-me meter em problemas.

goldmundo - ...

o homem - é que o gajo tinha uma filha menor e eu tenho duas propriedades, tá a ver?

goldmundo - ah

o homem - ainda tinha de vender o que me custou a ganhar para sustentar a filha do cabrão.

goldmundo - ah

o homem - então um amigo disse-me Carlos não sejas tanso. Rapa-lhe tudo e dá-lhe o divórcio.

goldmundo - ah

o homem - e chamei-a e disse-lhe olha e um olho negro e ficamos por aqui. Refiz a minha vida graças a deus, e tenho uma boa mulher com um bom emprego, traz dinheiro para casa. Inda pensei casar com a outra. Está a ver?

goldmundo - a outra.

o homem - a gaja com que eu, está a ver. Mas não é gaja para casar. Em casa quer-se uma coisa certinha.

goldmundo - ah

o homem - o que é preciso é ter direito à vida e à liberdade. Faço o que quero. Mas depois há os cabrões, e agora os iraquianos. Era uma bomba que os rebentasse a todos

goldmundo - ah

10 Comments:

Blogger Vítor Mácula said...

Mágnifico.

25/5/06 17:58  
Blogger maria said...

fantástico.

infelizmente, espécie duma fauna nada rara.

Um beijo para ti, Goldmundo. :)

25/5/06 18:14  
Anonymous Anónimo said...

ah!!

25/5/06 18:21  
Blogger Silvia said...

Há tempos apanhei um gajo neo-nazi como motorista. Fácil imaginar a conversa. Aliás, o monólogo. Eu abstive-me de responder.

25/5/06 20:16  
Blogger aquilária said...

"mas depois há os cabrões, e agora os iraquianos"

gostei particularmente desta!
:D

25/5/06 22:38  
Blogger katrina a gotika said...

Pois, é fantástico. Parece tirado de um filme do Tarantino mas sem a parte dos tiros.
Aliás, dava uma excelente cena para um filme português.

26/5/06 00:59  
Anonymous Anónimo said...

há pessoas que falam de si de uma forma absurda. há ainda os taxistas que são um espécime à parte dos outros. :s lol **

26/5/06 13:01  
Anonymous Anónimo said...

É bom voltar e ver que há lugares que se mantêm os mesmos, a mesma forma de expressão, é bom voltar a casa :)

27/5/06 00:15  
Blogger Lunaris said...

Já apanhei alguns espécimes do género nos táxis...era rebentar com eles? :P

31/5/06 14:50  
Blogger Goldmundo said...

Lunaris... há que fazer a revolução. Só.

Estou a ver o filme português. O Tarzan Tino.

31/5/06 16:25  

Enviar um comentário

<< Home