25.5.07

Daumal o menos

Já aqui disse várias vezes que é trágico - que é desertificante - o desaparecimento do francês como língua familiar àquilo a que (sim, no nosso etnocentrismo de ocidentais) chamamos pessoas cultas.

Hoje, provisoriamente, rendo-me. Aqui fica a tradução inglesa de um escrito de René Daumal. Não a acho muito boa. Mas talvez baste a quem se basta com o inglês. Do mal o menos.

I am dead because I lack desire.
I lack desire because I think I possess.
I think I possess because I do not try to give.
In trying to give, you see that you have nothing.
Seeing that you have nothing, you try to give of yourself.
Trying to give of yourself, you see that you are nothing.
Seeing that you are nothing, you desire to become.
In desiring to become, you begin to live.

23.5.07

Tenho saudades do mar.

22.5.07

Lisboa a prémio (3)

Prémio Loteamento de pelouro

Além de defender “a democracia participativa como modelo sistemático”, a ex-militante do PS prometeu um “Programa de Emergência” para a capital, que implique restaurar o “direito ao passeio” e “esverdear” a cidade, e propôs que o pelouro do urbanismo seja partilhado por todas as forças políticas. [Público.pt, hoje, 19:54]
Lisboa a prémio (2)

Prémio Matar dois coelhos de uma ajudada

"O ex-Presidente da República Jorge Sampaio pediu hoje aos lisboetas que dêem a maioria ao candidato do PS à câmara de Lisboa, António Costa, e que não julguem o Governo de José Sócrates nas eleições intercalares marcadas para 15 de Julho" [Público.pt, hoje, 14:35]
Haiku para Kaku

Concede a física teórica
dez dimensões ao mundo.

Talvez devesse escrever coisas mais simples.

17.5.07

Lisboa a prémio (1)

Prémio Quando Sair da Câmara para ser Primeiro-Ministro como fez o outro já sabem de quem é a culpa

"António Costa responsabiliza o PCP, o BE e Helena Roseta pela ausência de uma coligação de esquerda" [público.pt 17.05.2007 18:59]

9.5.07

Ivan Bilibin enquanto...


... enquanto as coisas não são coisas de encantar.

Que tem o mundo que faz tão frágeis os gestos, que temos nós, que os fazemos assim e depois é como se nada fosse? Como se nada pudesse ser.

Não queremos ver, não é? Não queremos. E não sabemos que história anda em nós como não sei que história conta Ivan Bilibin aqui (e era tão fácil: era uma vez).

A menina saiu de casa, e nem se lembrou de olhar para trás, para a luz amarela que a chamava como se tivesse saudades dela. Saiu de casa como se conhecesse os caminhos do bosque, como se a noite lhe emprestasse a luz. Tu não sabias que os mortos nos guiam, pois não? Não sabias que às vezes é preciso andar. A menina saiu de casa e alguma coisa nela sabia que era de uma vez por todas. Foi então que, foi mesmo.

Que tem o mundo, que a beleza é uma menina no bosque? Que temos nós.

[ilustração de Ivan Bilibin, como a anterior]

2.5.07

Era uma vez


"Era uma vez", diziam-me as coisas quando era pequeno demais para as entender.

Era uma vez, sabes, era uma vez uma coisa que não sabes ainda, uma coisa que um dia há-de ser. Era uma vez uma árvore, era uma vez a lua, era uma vez uma menina que um dia foi passear no jardim, as rosas. Era uma vez quer dizer que há caminhos por todo o lado, que há histórias em todos os gestos, que há palavras que nasceram noutro lugar tão longe. Quer dizer que agora era uma vez um menino que lia uma história, um menino à janela a chuva.

Sempre gostei de histórias-crianças e sempre gostei de desenhos assim, como este. Gostava de entrar ali, espreitar só um bocadinho, parar só um bocadinho, entrar naquela lua como se entrasse nas margens do rio. Sempre gostei de gostar.

Veio depois o tempo do mundo, claro, o tempo de fazer coisas e de ver coisas que não são feitas e coisas que se desfazem como se já não houvesse vez nenhuma mais. veio o tempo de ser maior.

E agora é Maio lá fora e por dentro anda o Outono a chegar. Tempo dourado das vindimas. Tempo de deixar o mundo ser como é, de me deixar a mim ser como sou (tão pouco). Os livros já vão a meio, talvez as histórias cheguem ao fim. Ficarão para outros as luas tão grandes. Para outros era uma vez.

Era uma vez o tempo em que o tempo chegou.


[ilustração de Ivan Bilibin, um artista russo
de há cem anos atrás. Se puderem, vejam a beleza que as mãos
dele deixaram]