Eyak
Falam hoje os jornais de muitas coisas. Às bolsas da Europa "voltou o optimismo"; a mim, não, nem promete.
Morreu em Anchorage, a maior cidade do Alaska, uma mulher chamada Marie Smith. Tinha 89 anos de idade. Era a última pessoa que no mundo tinha como língua materna a língua Eyak, a língua da sua tribo. Era nominalmente a chefe da tribo, filha do último chefe efectivo, aquele que teve o azar ou o destino de crescer e viver com a chegada dos homens brancos, do caminho de ferro, das bolsas que vivem momentos de euforia e optimismo. Era tudo, porque na sua tribo não havia mais ninguém.
Morreu Marie Smith, que não usava já o nome dos seus antepassados. Morreu com ela a língua Eyak. Morreu mais um pedacinho do mundo velho, feito de vivos e de mortos, feito das diferenças que só as coisas vivas - ainda que mortas - podem ter.
À minha frente o crepúsculo, e talvez os homens domesticados.
Falam hoje os jornais de muitas coisas. Às bolsas da Europa "voltou o optimismo"; a mim, não, nem promete.
Morreu em Anchorage, a maior cidade do Alaska, uma mulher chamada Marie Smith. Tinha 89 anos de idade. Era a última pessoa que no mundo tinha como língua materna a língua Eyak, a língua da sua tribo. Era nominalmente a chefe da tribo, filha do último chefe efectivo, aquele que teve o azar ou o destino de crescer e viver com a chegada dos homens brancos, do caminho de ferro, das bolsas que vivem momentos de euforia e optimismo. Era tudo, porque na sua tribo não havia mais ninguém.
Morreu Marie Smith, que não usava já o nome dos seus antepassados. Morreu com ela a língua Eyak. Morreu mais um pedacinho do mundo velho, feito de vivos e de mortos, feito das diferenças que só as coisas vivas - ainda que mortas - podem ter.
À minha frente o crepúsculo, e talvez os homens domesticados.
6 Comments:
Lembro-me de ter lido por aqui que tens filhos - esse mundo velho, que vive em ti, não tem de morrer - a chama que transportamos é sagrada! devêmo-la aos nossos filhos para que a transportem tambem - enquanto a chama arder haverá quem não se deixe domesticar!
Eu não transporto chama nenhuma. Deus me livre.
Errata:
Onde se lê "chama", leia-se: "mundo velho, feito de vivos e de mortos, feito das diferenças que só as coisas vivas - ainda que mortas - podem ter".
:)
Sim... Mas a minha hesitação não vinha da chama, mas do transportar. "Je garde et je regarde". Mas não quero andar, não quero esta coisa que anda.
"Je suis mort parce que je n'ai pas le désir..."
lembras-te?
René D'Haut Mal, lembro sim. Foi no tempo das cerejas.
Oh, eu detesto explicar a moral das histórias.
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