Hoje nem aqui consigo escrever. A noite às vezes não deixa sair nada. Talvez o fundo de um poço fundo. Um sítio onde houvesse pássaros de gelo. Um sítio onde o vermelho gritasse. Talvez arrancar as asas de um anjo cego. Talvez o teu cabelo incendiasse. E as rosas de Abril, coisas sem dono. Ontem uma rapariga falou de um lápis e de palavras sem peso, e outra veio dizer que as palavras são esperar. Mas hoje não, nem sequer há tempo, nem sequer. De manhã vi uma mulher vestida de negro, trazia um dragão ao pescoço e folheava um livro chamado "Ela, Adriana", e também outros mais antigos. Mas deixou ficar os poemas de Rimbaud. Eu sei que ela não se chama Clara. No polegar tinha um anel mas não sei que desenho nele se gravava. Hoje são doze de Agosto de um ano qualquer num sítio que não é aqui.
23.5.04
American Beauty
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