16.5.04

A Paixão e o Milagre

Hoje li no Público a crónica de um senhor chamado Frei Bento Domingues. Falava entusiasmado de um filme que estreou, o Milagre segundo Salomé. Há semanas atrás falava também, muito zangado, da Paixão de Cristo. Parece-me evidente que quem goste de um filme não há-de gostar do outro. Para quem não saiba, a Paixão de Cristo pretende narrar a história do significado do sofrimento de Cristo ("Vê, Mãe, como eu redimo todas as coisas!"), a partir dos textos dos Evangelhos e (o que foi menos notado) dos textos de uma mística do fim do séc. XVIII, Anna-Catarina Emmerich. O Milagre é feito a partir do livro de José Miguéis, escritor da primeira metade do séc. XX, e por ele passa a ideia de que Fátima nada tem a ver com Deus e os Homens. Isso percebe-se, porque Miguéis era ateu. Também se percebe a Paixão, porque Gibson é católico (e Anna-Catarina também). E eu percebo que haja ateus, como percebo que haja católicos. Percebe-se menos porque é que o frei Bento, gostando do que gosta, continua a ter como profissão ser frade católico. Os reformadores cansam-me. Não perceberão que o mundo é muito grande? Ou estamos apenas afinal diante de mais um malandro?