11.5.04

O lugar do início (II): não há coincidências

Sempre que precise da noite inteira, e sempre que precise das coisas dentro de mim. Eu queria ontem falar do lugar do início que conheci em Lisboa, e passei o tempo todo a falar de um lugar que já acabou. É por isso que às vezes prefiro ficar quieto. De modo que hoje vinha aqui falar de outras coisas, para que quando desse por ela estivesse a falar do que queria, do sítio negro dos arcos de pedra e da noite inteira que neles passei.

E há mesmo outras coisas de que queria falar, porque muita coisa aconteceu desde ontem. Por razões que hei-de explicar, queria falar de vampiros e de problemas morais. Mas aconteceu agora mesmo uma coisa muito estranha. Da última vez escrevi aqui "...e um dia contei-lhe a história verdadeira, a história de tudo o que aconteceu depois. Contei-a e escrevi-a, e foi a última coisa que escrevi durante muitos, muitos anos. Penso que uma amiga (...) tenha ainda guardada uma cópia". Sim, eu tinha dezasseis anos e escrevi a minha primeira história. Há muitos anos que a não via, e julgava que estivesse guardada num sótão do Porto. E agora abri uma gaveta onde achava que tinha uns apontamentos sobre vampiros e encontrei uma capa vermelha e dentro dela as folhas originais da minha história. Escritas na máquina de escrever que o meu avô me ofereceu. Não sei o que aconteceu, não sei o que esteja então guardado no sótão do Porto.

Vou pô-la aqui, mas antes vou só dizer quatro coisas:
(1) Essa história escrevi-a numa noite (numa madrugada) aos dezasseis anos. Foi a primeira noite em que não só olhei para a noite como a noite olhou para mim. Sei que a escrevi a ouvir música, e não me lembro que música era. Talvez fosse uma coisa que agora não podia estar mais longe, Barclay James Harvest. O contexto talvez esteja explicado no post anterior, não sou capaz de perceber.
(2) Eu disse que esta era a história verdadeira, "a história de tudo o que aconteceu depois". Sim, esta história foi a história dos anos que vieram a seguir, por coisas de que já falei e por coisas de que ainda não fui capaz. Menos o fim. E eu não era assim até essa noite, não era assim. É estranho.
(3) Acho que está mal escrita. Foi assim que a escrevi e não vou mudar nada. Mas tem muitas palavras complicadas, e escrever é dizer as coisas da forma verdadeira, que é sempre uma forma simples.
(4) Não há coincidências. Mas é bom voltar assim de repente ao lugar do início.