4.5.04

B(l)ack to business

Lisboa outra vez, devagarinho. Não tive tempo para fazer muitas coisas além de dormir. Mas entre dormir e ir pensando, algumas decisões de Maio. Uma delas, a mais feliz, é a de manter esta Ribeira mesmo sem saber muito sobre ela. Não foi fácil escrever sempre fora de casa, e sei agora que só terei uma casa instalada no fim de Junho. Já faltou mais. Outra, ou outras, referem-se ao meu trabalho, e ao papel que o trabalho tem (e terá) na minha vida. E às coisas que se tornam impossíveis por causa dele. Mas a decisão maior não é uma decisão. É uma espécie de balanço, ou uma espécie de "visto" no fim de uma folha de rascunho cheia de contas confusas. A minha vida tem sido feita de muitas coisas, e eu durante muito tempo pensei que um dia elas iam fazer-se uma única coisa maior. Mas pensando bem acho que gosto de uma vida feita de muitas coisas. Uma manta de retalhos pode ser uma coisa bonita. E nos retalhos da minha vida, afinal, o pano de fundo tem sido sempre a companhia da noite.

Estes dias fora daqui foram dias bons principalmente porque foram dias quietos. Voltei a ver a noite com as suas estrelas. E na minha Galiza encontrei um dia todo feito de nevoeiro, que é como se fosse um dia com saudades da escuridão. Meiga Galicia.

Às vezes a noite é feita de gritos. E os que a vivem sabem que a noite é um tempo de alargar. Mas cada vez mais a noite é em mim um grito calado. Dizem que Nero, ao morrer, exclamou "que artista o mundo perde comigo!". E que outro imperador, mais tarde, disse as últimas palavras que podiam ser minhas: "que espectador o mundo perde comigo."